A Importância da Reabilitação Motora nas Doenças Neurodegenerativas – Esclerose Múltipla
A prevalência média europeia de Esclerose Múltipla (EM) é de 83/100.000, sendo mais elevada em países do Norte da Europa (nas últimas três décadas) com maior incidência no sexo feminino (relação de 2:1) em que a prevalência é mais elevada no grupo etário dos 35-64 anos (Pugliatti et al. 2006). Um ou mais dos sintomas produzidos pelo dano na bainha de mielina em diferentes áreas do Sistema Nervoso Central (SNC) podem provocar alterações que afetam a qualidade de vida da pessoa com EM. Quando a bainha de mielina se encontra íntegra, há condução do impulso elétrico sem alterações. Na presença de lesão na bainha de mielina, em áreas específicas do cérebro e/ou medula espinal, há comprometimento das funções que estes desempenham.
Pode a reabilitação motora contribuir para uma melhoria dos sintomas da pessoa com Esclerose Múltipla?
A fisioterapia é uma intervenção que se baseia na individualidade de cada pessoa com Esclerose Múltipla, em que o movimento preconizado procura melhorar as queixas e, em muitos casos, estabilizar ou diminuir a incidência da progressão da doença.
Dos múltiplos sintomas que se podem manifestar, vou incidir sobre a fadiga e o equilíbrio como sintomas dos que procuramos minimizar o impacto. O treino cardiorrespiratório tem bastante importância na reabilitação motora, pois tem como objetivo a redução da fadiga – quanto maior for a capacidade ventilatória do aparelho respiratório, maior será o aporte de oxigénio às células. Quando a fadiga está presente, existe uma falta de força muscular que impossibilita a atividade. Respirar de forma mais eficiente beneficia a função cardiovascular e neuromuscular, que por sua vez também reduz a fadiga.
Estas melhorias respiratórias beneficiarão a fala, em que há mais emissão de ar nas cordas vocais, assim como na deglutição, melhorando a mobilidade destes músculos.
Vários parâmetros do sistema cardiovascular e função respiratória, como a capacidade aeróbica e o consumo máximo de oxigénio (VO2max), mostraram reduções até 30% em pessoas com Esclerose Múltipla, em comparação com indivíduos saudáveis (Mostert 2002). Aumentar a mobilidade e a marcha e, se necessário, introduzir um auxiliar de marcha, pode compensar a fraqueza muscular, aliviar a dor, melhorar a postura, corrigir padrões anormais de marcha e permitir que as pessoas caminhem mais longe e com mais segurança. Além disso, o uso de auxiliares de marcha pode restaurar a confiança, muitas vezes sinalizando a terceiros que a pessoa tem uma marcha instável. Os défices de equilíbrio são comuns e aumentam a probabilidade de queda (Peterson 2008). O treino de resistência também parece influenciar positivamente a fadiga, o humor e a qualidade de vida da pessoa com Esclerose Múltipla (Dalgas 2010).
Finalmente, a evidência sugere que o treino de resistência pode ter uma função neuroprotetora através do aumento das neurotrofinas 1, uma família de proteínas que induzem a sobrevivência, o desenvolvimento e a função dos neurónios (Castellano 2008; Gold 2003).
O tema é vasto e exige acompanhamento por Profissionais de Saúde. A reabilitação motora requer acompanhamento por fisioterapeutas e terapeutas ocupacionais, sem esquecer a terapia da fala, que incide em muitos outros aspetos, por vezes não tão evidentes a nível motor.
Sofia Baptista, fisioterapeuta num serviço de neurorreabilitação de Esclerose Múltipla.