A Controvérsia a Suplementos Alimentares
/in Sem categoria/by lisbonphNos últimos anos as pessoas procuram um estilo de vida mais saudável e são induzidas a pensar que encontram nos suplementos a “chave” para aumentar o seu bem-estar e manutenção da saúde.
A questão é que não foi sempre assim. Em 1990, Orrin Hatch e Tom Harkin conseguiram mudar a legislação dos “suplementos dietéticos” no Senado Americano, incluindo no texto da legislação “ervas e produtos nutricionais similares” (“herbs and similar nutritional products”). Deste modo, deixaram de ser constituídos apenas por proteínas, vitaminas e sais minerais e passaram a poder, de uma forma generalista, incluir quase tudo.
Isto levou a que várias situações de risco pudessem vir a ocorrer associadas a estes produtos. Às vezes incluem plantas a que não foi feito controlo de qualidade e contêm metais pesados, outros contêm plantas que não estão bem identificadas e algumas até trazem associados fungos que produzem toxinas, como as aflatoxinas.
Com toda a publicidade associada aos “Produtos Naturais”, também as Plantas Medicinais passaram a ser vendidas à luz desta legislação, passando por vezes à margem das regras dos Medicamentos à Base Plantas. Aparecem incluídas em diversas formas farmacêuticas como cápsulas ou comprimidos, como folhas em pó ou secas para “chás”, ou em soluções já preparadas e fáceis de transportar e beber o dia todo. Criou-se assim um mercado que não respeita as bioactividades das Plantas Medicinais, misturando várias ao longo do dia com potencial variado no organismo ao que ainda se associa, muitas vezes, um plano de polimedicação.
A legislação considera os suplementos alimentares géneros alimentícios que se destinam a complementar os planos alimentares, e que não deverão ser utilizados como substitutos de algum nutriente proveniente dos mesmos. Estes produtos são regulados pela DGAV, sendo que para a sua aprovação, não é necessário entregar ensaios de segurança. Destinam-se apenas a manter a homeostasia dentro de níveis normais e devem ser evitados “Produtos de Fronteira”, que tendem a usar substâncias “Borderline” que deveriam apenas existir em medicamentos controlados e com ensaios de eficácia e segurança.
Assim, o consumidor deveria estar alerta para a composição e para o facto de que por vezes, em casos reportados, esta não confere com os ingredientes que estão citados. Acresce a isto, situações em que alguns produtos poderão ainda conter adulterantes/contaminantes.
Pelo que acabamos de referir, é fácil perceber que doentes de risco, que são mais vulneráveis, como por exemplo os casos de oncologia, devem prestar maior atenção ao que consomem e não “embarcar” na magia dos outcomes que os poderão iludir. O tratamento oncológico é um processo muito moroso, acompanhado muitas vezes por um processo depressivo. Muitos doentes começam a suplementação convencidos que é uma “via rápida” para a cura, pelas suas alegações e promessas, numa esperança de ficarem melhor rapidamente, e isso pode trazer graves problemas de interações.
Outro exemplo, pode ser dado relativo ao uso de suplementos em doses superiores ao recomendado como, por exemplo, indivíduos que através da suplementação façam uma ingestão de cálcio superior à recomendada (1000 mg/dia), têm um risco aumentado de morte. A atitude mais sensata é só usar suplementos se o plano alimentar da pessoa for deficitário em algum nutriente que vá causar carência e subsequente doença. Nesses casos, a suplementação deve ser recomendada, mas nas doses específicas para aquela situação. Deste modo, é possível trazer os valores de autorregulação da homeostasia para a normalidade (saúde). Em caso de doença são precisos medicamentos (substâncias activas com actividade terapêutica) para repor os valores normais da homeostasia e isso não deve ser feito com suplementos, mesmo que estes reclamem essa bioactividade. Também o uso concomitante pode ser de risco, pelo que é fulcral comunicar ao médico ou farmacêutico sobre o consumo destes produtos, bem como da terapêutica que tome, uma vez que pode interferir com a eficácia dos tratamentos.
A suplementação é um assunto sério e deve estar associada à eficácia, segurança e qualidade, pelo que a sua recomendação e venda deveria ser objectivamente avaliada de forma responsável e consciente. Os farmacêuticos podem ser responsáveis pela mudança de perspectiva sobre esta temática enquanto agentes de saúde pública. Compete-nos fazer um bom aconselhamento ao doente através da revisão da terapêutica e avaliação de interacções, também com os suplementos se forem necessários.
Todos os tratamentos devem ser realizados de forma racional e segura para o doente e para o bem-estar de todos.
Cátia Couto e Maria da Graça Campos
Observatório de Interações Planta-Medicamento (OIPM), Universidade de Coimbra