Ecofarmacologia: Impacto dos resíduos no ambiente
O aumento do consumo de produtos farmacêuticos e, em particular, de medicamentos, é uma realidade nas sociedades mundiais.
Temos de admitir, contudo, que não têm apenas impacto na nossa saúde, pois, após ingestão ou aplicação, há uma parte que é descarregada no ambiente através do sistema de águas residuais. A presença dos seus componentes nos diferentes ecossistemas representa, por isso, uma grande preocupação ambiental devido à sua mais que provável interferência nos diversos sistemas ecológicos. É, portanto, muito importante avaliar e investigar o efeito dos medicamentos na sustentabilidade dos ecossistemas.
Investigações e estudos realizados por diversas instituições académicas ou de outra índole têm sido desenvolvidos para avaliar o impacto ambiental dos medicamentos, depois de antibióticos e hormonas de pílulas contracetivas terem sido encontrados em rios, lagos e até na água da torneira.Apesar de, até à data, terem demonstrado um risco reduzido para a saúde da população, os impactos ambientais dos medicamentos nos ecossistemas de rios e lagos são reais. É assimquehormonas femininas presentes na pílula contracetiva contribuem para a feminização de peixes selvagens masculinos ou baixas concentrações de ansiolíticos afetam o comportamento de carpas, que se tornaram menos sociáveis e começaram a comer mais rápido, tornando-as mais vulneráveis aos predadores.
Por outro lado, quando é aplicada medicação na pele, uma parte será sempre desperdiçada quando se toma banho ou lava as mãos. Quando ingerida, uma parte é absorvida, outra é transformada pelo corpo e outra é excretada sem alterações pelo nosso organismo. Todas estas substâncias vão parar ao sistema de tratamento de águas residuais (ETAR) e, aqui, algumas podem ser tratadas, mas muitas outras não, levando a que acabem nos rios ou nas lamas resultantes dos tratamentos, que são depois utilizadas como fertilizante em campos de cultivo.
Em Portugal é à VALORMED que está atribuída, pelas autoridades ambientais, a responsabilidade da gestão dos resíduos de embalagens vazias e medicamentos fora de uso. Os resíduos de origem doméstica devem ser depositados nos contentores presentes nas farmácias e parafarmácias aderentes, que depois são entregues aos distribuidores de medicamentos que os transportam para as suas instalações. Estes contentores são depois enviados para um Centro de Triagem por um operador de gestão, onde os resíduos são separados e classificados para, finalmente, serem entregues a entidades autorizadas que vão ser responsáveis pelo seu tratamento, que passa pela reciclagem de materiais como o papel, cartão, plástico, vidro, e incineração segura com valorização energética dos restos de medicamentos.
Para diminuir o impacto dos medicamentos no ambiente, os portugueses devem:
- Fazer uma revisão periódica à farmácia doméstica, separando os medicamentos que já não usam ou estão fora de prazo de validade;
- Entregar os medicamentos fora de uso ou de prazo numa farmácia ou parafarmácia;
- Nunca despejar restos de medicamentos através dos esgotos.
Dr. Luís Miguel Figueiredo – Diretor Geral da VALORMED