Farmacovigilância
Atualmente, a farmacovigilância constitui uma das áreas mais em voga, no que conta à gestão de risco em saúde e mais especificamente de medicamentos. Pode mesmo dizer-se que existe uma farmacovigilância anterior e outra posterior relativamente à aprovação da primeira vacina anti-COVID-19. Os sistemas nacionais e internacionais têm experienciado uma enorme pressão, derivada, acima de tudo, da hipervigilância de suspeitas de reação adversa às vacinas. No entanto, este facto conduziu a um inevitável processo de melhoria e inovação. Diria mesmo, de reinvenção!
Muito tem sido discutido no que respeita à dimensão do conhecimento em que esta área se insere. Será apenas técnica, ou constitui cada vez mais uma disciplina e motor de produção de conhecimento científico com fortes pilares no mundo real? É, sem dúvida, um dos mais afinados sistemas de informação e de produção de evidência farmacoepidemiológica, não só durante os ensaios clínicos, mas sobretudo a partir do momento em que os medicamentos começam a ser comercializados, gerando continuamente enormes quantidades de dados. Nos centros de investigação dedicados a esta temática, nomeadamente o European Network of Centres for Pharmacoepidemiology and Pharmacovigilance (ENCePP) e o Uppsala Monitoring Centre (UMC), diversos são os projetos de investigação e desenvolvimento em curso.
Através da informação recebida pela farmacovigilância, o processamento, a validação e a imputação de causalidade de cada suspeita de reação adversa permitem abrir as portas à adoção de medidas de minimização de risco que compreendem não só a defesa da saúde individual, mas também, e não poucas vezes, a defesa da saúde coletiva.
A farmacovigilância é, hoje em dia, um instrumento ao dispor de todos os cidadãos, sejam ou não Profissionais de Saúde. Todos, sem exceção, têm não só o direito, mas também o dever de notificar suspeitas de reação adversa a medicamentos a partir dos canais disponíveis, cuja via mais acessível, em Portugal, é o Portal RAM (https://bit.ly/3qOGx7U). Esta plataforma é da responsabilidade do Sistema Nacional de Farmacovigilância (SNF) (INFARMED, I.P.) o qual é constituído pela Direção de Gestão do Risco de Medicamentos (DGRM) e por um conjunto de dez unidades regionais de farmacovigilância com representatividade em todo o território nacional e estreita ligação com os serviços de saúde e academia.
A segurança associada à utilização de medicamentos constitui um tema central e fulcral. Cada vez mais, a farmacovigilância necessitará de se aproximar de novos intervenientes, procurando complementar a rotina já fortemente dinamizada, com a pro-atividade da comunidade e com a formação pré/pós-graduada e contínua dos estudantes e profissionais da área da Saúde. As campanhas de divulgação e sensibilização terão necessariamente que atingir públicos-alvo que possam ser o combustível para uma notificação espontânea mais participada e para um envolvimento integrado dos utentes. Levar o conhecimento e a atividade científica, devidamente traduzidos e transmitidos à comunidade, poderá constituir um caminho de inestimável valor para o processo de transformação, participação e inovação nesta área do conhecimento. Os desafios aos sistemas de farmacovigilância serão cada vez mais exigentes. Adaptação, cooperação e crescimento serão inevitavelmente o caminho. A comunicação, o rigor e a excelência são fundamentais.