Férias de verão para o desenvolvimento cognitivo e emocional

Ao longo destes anos em que me tenho dedicado aos mais jovens, sempre que eles retornavam das férias sentia que tinham crescido imenso. Por isso, decidi debruçar-me sobre o motivo pelo qual isto acontecia.

           Durante o tempo escolar, as crianças e jovens lidam com diferentes emoções e regras, adaptam-se a diferentes perfis e lidam com a pressão das metas. Agregadas a esta experiência, há atividades extracurriculares e ocorrem situações pessoais que também influenciam o equilíbrio emocional e físico necessário para a experiência escolar. Também os cuidadores (por exemplo, os pais) estão menos disponíveis para educar, brincar, relacionar-se e entregar-se de forma plena. E esta forma de estar “incompleta” tem um impacto negativo nos mais novos.

           Na reta final do ano letivo, observa-se exaustão mental, em que a motivação e o empenho decrescem e, por vezes, os resultados escolares. São notórias alterações do humor e comportamentais, estando mais irritados, tristes, desleixados e agressivos, menos assertivos e concentrados, poderão ter mais tendência para se isolarem, para fazerem birras, alterações alimentares, redução da qualidade do sono, problemas digestivos ou alterações no seu autoconceito.

           Chegadas as férias, o verão caracteriza-se pelo fim do stress escolar, pelo acesso a atividades diferentes e mais contacto com o ar livre. É também uma altura em que as rotinas se alteram e as crianças vão sentindo algum alívio na engrenagem montada desde setembro do ano anterior. O barulho de fundo no cérebro desaparece e dá lugar a um novo espaço para restabelecer energia, absorver experiências e, consequentemente, potenciar competências pessoais e sociais.

           O papel dos adultos, durante o tempo letivo e de lazer, é fundamental para que a assimilação das aprendizagens e experiências seja efetivada. O afeto, o respeito, a atenção plena, a forma como ajudam na gestão das emoções, o apoio na procura de estratégias e soluções e a contenção em momentos de crises são o que possibilita um crescimento harmonioso e, naturalmente, o desenvolvimento das competências necessárias para o bem-estar dos jovens. Por isso, é preciso garantir por um lado que os adultos estão atentos aos mais jovens e que eles mesmos estejam bem, estando disponíveis para se relacionarem.

           Este desenvolvimento dá-se, essencialmente, devido às alterações biológicas que ocorrem pela mudança dos estímulos exteriores. Isto é, os fatores de stress desaparecem e fazem descer a produção de cortisol, hormona do stress. Esta hormona, produzida em excesso na intensidade e no tempo, é responsável por causar desequilíbrios no corpo, tais como na produção da somatropina (hormona do crescimento, responsável pela estimulação dos tecidos em todo o corpo) e também na capacidade de produzir conexões neurais que, especialmente nesta fase do desenvolvimento, se encontram bastante ativas. Afeta ainda o sistema imunológico e potencia perturbações do foro mental.

           Segundo Sunderland, em “The Science behind how holidays make your child happier and smarter” (2017) e como resumido por Gomes, em 2018, “Porque é que as crianças crescem tanto nas Férias Grandes”, o cérebro tem benefícios, uma vez que esta época, pela sua qualidade, “ativa neurotransmissores responsáveis pela sensação de bem-estar, incluindo oxitocina e dopamina”. Sunderland menciona que a vinculação é reforçada nesta altura, porque a dedicação parental e familiar transmite uma mensagem de estima para com os filhos.

           As experiências das férias potenciam o desenvolvimento de competências como a exploração, resolução de problemas, planeamento, concentração e a empatia, visto que contemplam interações sociais, físicas e cognitivas. Desta forma, podemos dizer que as férias letivas são uma forma terapêutica não farmacológica de lidar com as necessidades essenciais para haver um novo ano letivo repleto de bem-estar e saúde mental, e concludentemente, mais capacidade para viver a experiência escolar com sucesso.