Importância e Justificação da Geriatria
Há mais de um século que Médicos e organizações científicas chamam a atenção para os doentes idosos, considerando-os um grupo particular dentro da população dos doentes que procuram assistência médica.
Considerações semelhantes fizeram emergir na Europa, no século XVIII, a assistência especializada às crianças, e o primeiro hospital de pediatria nasceu na Grã-Bretanha, em Londres em 1745, o London Foundling Hospital. Este hospital como outros da mesma especialidade tornaram-se os principais centros de treino de pediatria que passou a ser ensinada nas Escolas Médicas, como disciplina autónoma, em meados do século XIX.
Quando doentes, a criança e o idoso são semelhantes nas suas particularidades, que os distinguem do doente adulto.
Ambos têm doenças próprias ou mais prevalentes, ambos têm manifestações especiais das suas doenças, ambos têm opções terapêuticas condicionadas pelas alterações da farmacocinética e da farmacodinamia, ambos exigem aconselhamento na prevenção das doenças e no desenvolvimento harmonioso e saudável, a criança, no envelhecimento ativo e saudável, o idoso. Ambos exigem atenções no internamento, minimizando o sofrimento da criança na separação da família, evitando o delirium e a perda de autonomia motora no idoso. No caso do idoso acresce a simultaneidade de patologias e a frequente e nem sempre evitável polimedicação.
A Pediatria foi entendida como um aliado da Medicina Interna, um contributo importante para otimizar a assistência à criança.
A medicina dos Idosos, a Geriatria, é também assim entendida em todos os países civilizados do Mundo. Aliada da Medicina Interna, enriquece-a e complementa-a. Nos países onde se desenvolveu a Geriatria, desde meados do século passado, não retirou importância à grande disciplina, base de todas as especialidades que é a Medicina Interna, e como todas as outras especialidades que emergiram da Medicina Interna a sua existência tem a mesma justificação:
melhorar a qualidade e a eficácia da assistência no exercício da medicina.
Nos nossos dias a eficácia da medicina exige cada vez mais a assistência por uma equipa multidisciplinar.
A Geriatria é uma das disciplinas que, como todas as outras, é imprescindível nessa equipa.
É urgente que à semelhança do que aconteceu no Mundo (p. ex: há mais de três dezenas de anos em Espanha e nos E.U.A.) que os grandes hospitais de Portugal criem Unidades de Internamento de Geriatria não só para otimização dos cuidados aos idosos do tipo III (1), mas também para a formação dos Internistas e dos médicos que pretendam obter a Competência em Geriatria.
Não será só de mais Geriatras que precisamos, mas também de médicos cada vez melhor preparados para otimizar a assistência aos doentes idosos.
Assim seremos iguais aos outros países, daremos seguimento às diretrizes da Organização Mundial de Saúde e para mais, como escreveu em 1991, o Prof. Daniel Serrão: “é um imperativo moral e ético criar as condições científicas e técnicas que permitam formar médicos aptos a dar cumprimentos aos princípios das Nações Unidas em favor das pessoas idosas”.
- Gorjão Clara J. The older patient; the need for geriatric units. (Editorial).
European Geriatric Medicine, 2015;6(4):295-296