Isolamento e Solidão – A Pandemia da Saúde Mental

Caro leitor,

Vivemos tempos completamente excecionais na humanidade e, em particular, no nosso país. E se, no que diz respeito à saúde mental, o cenário era já em si inquietante e alarmante, o ano de 2020 acrescentou ainda mais um peso, este inesperado por todos, – uma crise sanitária global. As consequências da pandemia COVID-19 estão a ser devastadoras e existe uma relação causal muito significativa com o aumento de situações preocupantes em matéria de saúde mental.

Podemos, inclusive, afirmar que todos nós, de forma muito generalizada, vivemos aquilo que a teoria do ecobiodesenvolvimento designaria de “stress tóxico”. Algo que se desenvolve precisamente em ambientes caóticos e é um tipo de stress forte, frequente e com ativação prolongada no organismo, sem mecanismos de proteção que possam reduzir os impactos dos efeitos ou consequências das situações causadoras de stress. Ao experienciarmos situações de stress tóxico, há consequências que podem ser já observadas a curto prazo, como: irritabilidade, medos, transtorno do sono, diminuição das defesas do sistema imunitário; e a médio e longo prazo: transtornos de ansiedade, atraso no desenvolvimento e depressão.

O combate à pandemia COVID-19 levou governos a tomar medidas duras, difíceis e exigentes para o ser humano. São exemplo disso as medidas de distanciamento físico, medidas de confinamento geral e/ou parcial, recolhimentos obrigatórios, entre outras por razões sanitárias.

Ora, nós “não somos ilhas” – somos seres sociais – e não “fomos feitos” para viver em confinamento 24 sob 24 horas, o que veio adensar ainda mais os problemas relacionados com a saúde mental, nomeadamente o exacerbamento de quadros de ansiedade e depressão.

Caro leitor, estes últimos meses alteraram a nossa vida de forma significativa, impondo restrições e desafios pessoais, sociais e profissionais que nunca havíamos experimentado anteriormente.

O isolamento social, a solidão, a incerteza profissional, o desemprego, problemas acrescidos na prestação de cuidados básicos (como por exemplo, na alimentação, educação, habitação/rendas, etc…), os problemas conjugais e familiares acrescidos, o ambiente familiar tenso e pouco equilibrado, a dificuldade no acesso a muitos serviços da sociedade e a incerteza relativamente à solução para esta situação pandémica estão relacionados com o aumento e o exacerbamento de problemas de saúde mental, acarretando um sofrimento psicológico agudo e crónico muito significativo e difícil de lidar.

Por estas razões, e porque muito se poderia escrever sobre o isolamento e a solidão, deixo aqui o conselho de procurar ajuda. Não se isole e se estiver atualmente a passar por este tipo de problemas, fique sempre com a ideia de que não está sozinho/a. Procure apoio emocional junto dos que lhe querem bem e, especialmente, procure ajuda profissional e especializada.

Dr. Miguel Durães, Vice-Presidente da FamiliarMente

19 de novembro de 2020