Ninguém Tem Limites
Sou o Nuno Major, tenho 21 anos e sou estudante do 4º ano da FFUL.
Tudo começou quando eu nasci… Um bebé aparentemente normal, mas havia algo de errado, não tinha força para chorar. Para duas pessoas que acabam de ser pais pela primeira vez, depararem-se com um bebé diferente é como um murro no estômago. Fizeram-se exames e mais exames, testes, viagens, biópsias, pediram-se segundas, terceiras, quartas opiniões e nada! Não havia diagnóstico… e para ser sincero, ainda não há hoje em dia.
O que se sabe é que tenho uma neuropatia axonal periférica. Trocando isto por palavras mais simples – neuropatia, porque é do foro neurológico; axonal, porque basicamente os nervos não transmitem a mensagem completa aos músculos, logo eles não se contraem na sua totalidade; periférica, pois afeta mais a periferia – do joelho para baixo e do cotovelo para baixo.
Não foi uma infância fácil, há que admitir, não só para mim, mas principalmente para quem esteve comigo desde o dia 1. Não deve ser fácil ouvir que “a esperança média de vida do seu filho são meses/anos”… Ou que “o seu filho na adolescência vai parar definitivamente a uma cadeira de rodas”… Ou ainda, “tem de o ajudar para ele não se magoar porque ele não consegue fazer isso”… Tantos blá blá blá, mas tal nunca aconteceu, nunca baixámos os braços! Sempre se ultrapassaram barreiras, alcançaram novos objetivos, conquistaram novas vitórias e tudo isto não era possível sem a melhor pessoa que eu conheço neste mundo – a minha mãe! Sem ela, sem a força dela, a sua resiliência e mau feitio (claro!), não era esta pessoa que sou hoje, a levar uma vida completamente autónoma… Um obrigado é pouco!
Não posso dizer que a minha deficiência me define, mas ajudou a tornar-me na pessoa que sou hoje! Houve muita coisa menos positiva? Sim, claro. Mas aprendi se calhar a relativizar um pouco as várias coisas que nos acontecem no dia a dia, aprendi a viver cada momento, cada vitória e, acima de tudo, a ser mais positivo para com a vida e com os outros!
Felizmente nunca me faltou nada, sempre estive rodeado das melhores pessoas que conheço, dos melhores amigos, dos melhores familiares, dos melhores colegas… Foram estas pessoas que quando houve momentos menos bons me puxaram para cima e fizeram de tudo para que não me sentisse diferente!
Se é impossível passar um dia sem pensar na minha doença, sem pensar no que os outros pensam quando me veem, sem haver barreiras? É. Mas é tão gratificante quando surgem convites destes para dar o meu testemunho e sentir que posso ter algum impacto na vida das pessoas!
Eu não sou mais nem menos que ninguém, todos temos as nossas experiências de vida, e eu hei-de continuar cá a levar a vida com boa disposição, na esperança que um dia haja um diagnóstico. Tu, que estás aí a ler isto, se te pus a sorrir ou te inspirei, já fizeste com que o meu dia valesse a pena!
Um obrigado enorme a todos os que de alguma forma fazem parte da minha vida e lembrem-se: as incapacidades de cada um estão na nossa própria cabeça e na forma como pensamos!