O Impacto das Fake News na Sociedade durante a pandemia da COVID-19
Atrevo-me a começar esta breve reflexão por ponderar que o termo “Fake News” é profundamente ingrato. Não é possível, pois, conceber que uma notícia, na sua aceção mais restrita, possa ter como caraterística a sua falsidade.
Vivemos, por isso, reféns de uma tal incerteza que nos leva a questionar um conceito tão inocente como o da verdade. Se é certo que essa “verdade” já não o era igualmente reconfortante para tantos de nós, não fosse a inquietude da dúvida uma constante nas nossas vidas, certo é que agora a distinção entre informação e ficção ficou ainda mais distorcida.
A intencionalidade em enganar o público ao fornecer informação falsa é uma ameaça transversal a todos os setores de atividade, mas especialmente preocupante no setor da saúde, se considerarmos as consequências negativas, e potencialmente fatais, que podem decorrer da mensagem transmitida, em muitos casos, por fontes “ditas” de credíveis. Basta relembrar a recomendação do presidente dos E.U.A., Donald Trump, para a ingestão de lixívia como método preventivo da COVID-19.
A evolução tecnológica, consumada na liberdade de acesso à informação, mas também na facilidade de propagação de ideias ou mensagens, chamemos-lhes assim, foi um “adubo” incontestável para a desinformação. Estamos, assim, a recolher os frutos do terreno fértil que foi cultivado, anos a fio, sem qualquer medida preventiva.
Emergem agora, face a um contexto pandémico, as medidas necessárias para evitar a propagação desta avalanche de informação enganosa. A Organização Mundial da Saúde (OMS), que está a liderar a resposta da ONU à COVID-19, tem apelado a todos os governos para acautelarem plataformas de comunicação, em função das suas próprias condições e da propagação do vírus nos seus países, para combater a propagação de informação pouco fiável.
Contudo, não chega. Tal como nos casos das doenças infeciosas, nas quais podemos incluir a COVID–19, a desinformação será um dos principais perigos para a Saúde Pública.
É essencial pensarmos numa “estratégia” muito mais do que em medidas a curto prazo, que mais não são do que “pensos” rápidos, eles próprios, uma espécie de informação falaciosa. Estamos perante um desafio que requer uma abordagem multidisciplinar, sem qualquer tipo de dúvida.
A comunicação estratégica para a mudança é, particularmente, pertinente numa altura em que muitas das ameaças estão enraizadas no comportamento humano. Rimal e Lapinski (2009) assumiam-se otimistas quando declararam num boletim da OMS, que os comunicadores para a saúde têm uma oportunidade única de dar um contributo significativo para melhorar e salvar vidas. Agora, mais do que nunca, chegou o momento!
Andreia Garcia, Diretora-Geral da Miligrama Comunicação em Saúde