O Papel da Empatia na Construção de Relações Sociais Saudáveis

A empatia, referida pela psicologia como “calçar os sapatos do outro”, refere-se à capacidade de compreender aquilo que outra pessoa pode estar a passar, tendo em conta as suas vivências prévias e a sua experiência de vida. Para além da própria compreensão, abrange também uma disponibilidade afetiva para que possamos assimilar o que vemos e ouvimos, e para que nos possamos emocionar com a outra pessoa, sempre que se justificar, estando alinhados com a sua emoção.
Quero com isto dizer que uma postura empática consiste, por exemplo, em olhar para alguém que está triste, entender essa tristeza de acordo com o referencial, ou seja, a experiência de vida dessa pessoa (tendo em conta a sua bagagem, como eu costumo dizer na prática clínica) e sentir também um pouco dessa tristeza face à compreensão profunda do que essa pessoa está a sentir e do impacto que essa emoção tem em si especificamente.
Assim, a empatia constitui uma ferramenta para relações humanas saudáveis, no geral, e não se deve restringir unicamente à relação terapêutica entre psicólogo/a e cliente. Na verdade, todos nós queremos ser ouvidos e acolhidos com empatia, certo?
Esta empatia pode ser demonstrada de forma verbal ou não verbal e procura, no âmbito das relações sociais, compreender a realidade das pessoas com quem nos cruzamos e convivemos, validando o que sentem. Assim, no nosso dia a dia, podemos demonstrar empatia através de ferramentas como a escuta ativa, a validação, o acolhimento do outro, e o permitir expressar emoções, que tantas vezes são invalidadas (por vezes até inadvertidamente).
A empatia permite uma facilitação das relações sociais e contribui para que estas sejam mais adaptativas, na medida em que permite aos elementos de um grupo sentirem-se integrados e validados, potenciando a manifestação de quem realmente somos, sem filtros, e independentemente daquelas que serão as nossas idiossincrasias, promovendo também o nosso sentimento de pertença e vinculação ao grupo.
Nas relações, esta postura empática e aberta para com o outro facilita-nos o criar laços e o estabelecer conexões com mais abertura emocional.

Como pôr a teoria em prática?
Costumo dizer que não somos robots e não é meramente um cliché. Não somos os mesmos e todos carregamos a nossa bagagem com experiências (mais e menos felizes, claro) e agimos/reagimos em função das aprendizagens que daí advêm. Ter uma postura empática implica recordar isto todos os dias, com todas as pessoas que nos rodeiam. Implica ouvir com interesse, sem julgamento e com um cuidado genuíno para ouvir mesmo. Implica transmitir ao outro que estamos ali e estar mesmo. Implica uma postura corporal recetiva e compassiva e uma palavra de compreensão e honestidade que pode ir desde “acredito que isso seja mesmo difícil” a “não consigo imaginar aquilo por que estás a passar, mas estou aqui para que possas falar sobre como te sentes”.
Outra expressão da psicologia para a empatia inclui “segurar o outro com o ouvido”, e acho que conseguimos perceber porquê. Se todos os dias nos lembrarmos disto e procurarmos perceber como pôr a empatia em prática, as nossas relações serão, certamente, mais saudáveis.

Dalila Melfe
Psicóloga (CP 25204)