Os efeitos das novas formas de fumar
O cigarro convencional tem cerca de 7357 compostos químicos, dos quais 70 têm atividade carcinogénica confirmada. Destes destacam-se a nicotina, pelo seu efeito aditivo, e as N-nitrosaminas, o benzeno, as aminas aromáticas, a acroleína, o acetaldeído e os compostos poli-aromáticos, pelo seu comprovado efeito carcinogénico. O consumo de tabaco é um factor de risco para 6 das 8 principais causas de morte a nível mundial, como na doença cardíaca isquémica, doença cerebrovascular, DPOC, infeções respiratórias inferiores, tuberculose e cancro do pulmão, e é responsável por cerca de 700.000 mortes a nível europeu. Estes efeitos deletérios, habitualmente, desenvolvem-se duas décadas depois de se iniciar o consumo, pelo que, muitas vezes, menospreza-se o risco associado.
O cigarro electrónico, ou e-cigarro, foi patenteado em 2003, pelo farmacêutico chinês Hon Lik, com o objetivo de repor a nicotina, um dos compostos que causa adição e dependência. Atualmente, existem mais de 2.500 marcas no mercado, com vários formatos e constituintes. Estes incluem a nicotina, o propilenoglicol ou o glicerol diluído em água para produzir o aerossol, e, por vezes, substâncias que modificam o sabor, como extrato de frutas, baunilha ou menta. No entanto, já foram detetadas nos cartuchos de nicotina outras substâncias potencialmente perigosas, como formaldeído, acetaldeído, acroleína, compostos orgânicos voláteis ou nitrosaminas. A segurança do e-cigarro não foi cientificamente demonstrada e o potencial risco para a saúde ainda não se encontra totalmente esclarecido, até porque muitos dos problemas de segurança estão relacionados com a inexistência de regulação adequada e de inconsistências no seu controlo de qualidade, com a consequente variabilidade na qualidade dos dispositivos, na quantidade de nicotina dispensada e nos outros constituintes dos diferentes cartuchos. O tecido respiratório exposto ao vaping desenvolve inflamação, tendo como consequência a curto e médio prazo a tosse, expectoração e falta de ar, e a longo prazo o desenvolvimento de doença pulmonar obstrutiva crónica (DPOC), infeções respiratórias, doenças cardiovasculares e cancro. Esta tem sido a forma de início de consumo de tabaco por um número crescente de jovens, que sentem que estes dispositivos terão uma fração mais reduzida dos riscos dos cigarros convencionais. Mas não se deixem enganar, o e-cigarro pode ser menos danoso para o organismo, mas não é completamente seguro, com potenciais danos para o coração e pulmões, causa tanta adição quanto o tabaco “normal” e não é a melhor ferramenta para se deixar de fumar.
No que concerne ao tabaco aquecido, a própria tabaqueira responsável pela sua comercialização assume que este não é um produto isento de risco, contém nicotina e outros produtos químicos, e está destinado apenas a fumadores adultos.
Se estiver preocupado com os efeitos que o consumo de tabaco pode ter na saúde, a melhor opção é mesmo deixar de usar completamente qualquer produto com tabaco e/ou nicotina.
António Araújo,
Diretor do Serviço de Oncologia Médica, Centro Hospitalar da Universidade do Porto.
Professor Catedrático Convidado do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar, Universidade do Porto.