Suporte Básico de Vida

A Paragem Cardiorrespiratória (PCR) é um acontecimento imprevisto e repentino, constituindo-se como uma das principais causas de morte nos países desenvolvidos. Estima-se que afete entre 350.000 e 700.000 indivíduos/ano na Europa e cerca de 10.000 indivíduos/ano em Portugal. Destes, apenas 5,19% sobrevivem. 

A localização da maioria das PCR pode ser uma variável importante, uma vez que cerca de 70% ocorre em casa. Em Portugal, a PCR foi testemunhada em cerca de 35% dos casos e em 57% das presenciadas não foi realizada qualquer manobra de reanimação até à chegada de ajuda diferenciada ao local. Os cidadãos que presenciam uma PCR podem e devem desempenhar um papel extremamente importante ao ativar o Sistema Integrado de Emergência Médica (SIEM) e iniciar rapidamente manobras de Suporte Básico de Vida (SBV).

O cidadão frequentemente tem dificuldade na identificação da PCR: não estando familiarizado com o problema, não tenta verificar sinais de vida, confunde respiração agónica com respiração normal, e a deteção de PCR é muitas vezes retardada devido à imprevisibilidade do colapso súbito e ao leque de diferentes características que acompanham o evento. A falta de confiança durante a reanimação, o medo de litígios e as preocupações com o risco de contrair uma doença durante a ventilação boca-a-boca são razões adicionais para não realizar SBV. 

Durante a PCR, a vítima perde 10% de hipóteses de sobrevivência a cada minuto que passa. O cérebro apenas sobrevive 3 a 5 minutos sem oxigénio, e uma auditoria recente do Tribunal de Contas ao INEM evidenciou que, em 80% dos casos, a chegada da ambulância ao local demora mais de 8 minutos, desde o início da ocorrência. Ou seja, se nada for feito junto da vítima até à chegada da ajuda diferenciada ao local, a probabilidade de sobrevivência reduz drasticamente a menos de 20%. 

O número de Desfibrilhadores Automáticos Externos (DAE) também poderá contribuir para uma estatística tão fatal da PCR. Em Portugal, dados de 2019 revelam que em Portugal existam aproximadamente 2 DAE por 10.000 habitantes, enquanto que nos Estados Unidos da América existem 80 DAE por 10.000 habitantes. Um estudo efetuado em Portugal apresenta uma taxa de sobrevivência da PCR de aproximadamente 40% em locais onde existem Programas de DAE – oito vezes superior à média nacional.

Constitui-se assim fundamental a intervenção rápida de quem presencia uma PCR, com base em procedimentos específicos e devidamente enquadrados pela designada Cadeia de Sobrevivência. Esta cadeia resume as sequências de atitudes necessárias para a reanimação com sucesso:

1. Reconhecer a situação de emergência e pedir ajuda, acionando de imediato o Sistema de Emergência Médica, através do 112 – Prevenir a PCR;

2. Iniciar de imediato manobras de SBV – Ganhar tempo; 

3. Aceder à desfibrilhação tão precocemente quanto possível, quando indicado – Repor a atividade cardíaca; 

4. Cuidados pós-reanimação – Restaurar a qualidade de vida. 

Estes procedimentos sucedem-se de forma encadeada e constituem uma cadeia de atitudes/ações em que cada elo articula o procedimento anterior com o seguinte e a concretização dos mesmos é vital para que o resultado final possa ser uma vida salva.

Face ao enunciado anteriormente, o início precoce de manobras de SBV salva vidas. Recentemente, foi aprovado, a 8 de outubro de 2021, através da Resolução da Assembleia da República n.º 262, a introdução do ensino de Suporte Básico de Vida no currículo escolar dos alunos do 1º, 2º e 3º ciclos do ensino básico e do ensino secundário, em termos adequados à idade e ao ano frequentado. Estudos defendem que o treino em SBV reduziu a ansiedade em cometer erros e aumentou a disposição dos participantes para ajudar na sua capacidade altruísta. A mesma recomendação da Assembleia da República recomenda a instalação de DAE em todos os recintos desportivos e estabelecimentos de ensino.

Só com a capacitação do cidadão nos três primeiros elos da cadeia de sobrevivência (Alerta, SBV e DAE) podemos almejar melhorar a taxa de sobrevivência de PCR em Portugal.

Enfermeiro Fábio Oliveira