A Importância da Consulta na Farmácia
A profissão farmacêutica, como muitas outras, tem evoluído ao longo dos tempos.
Em Portugal, os farmacêuticos destacam a sua presença desde o século XV desenvolvendo, inicialmente, as suas funções na preparação oficinal de medicamentos (manipulados). Não obstante, a importância deste papel inicial das farmácias, acredito que o caminho evolutivo seguido, mais centrado no cidadão, terá sido lógico e fundamental para o contexto sociogeográfico em que as farmácias se inserem! Fez, então, todo o sentido a evolução da designação das Farmácias de Oficina para Farmácias Comunitárias.
Na minha experiência enquanto Farmacêutica Comunitária é, com agrado que tenho assistido, nestas últimas décadas, à contínua evolução dos serviços que podemos prestar. Podemos ainda evoluir mais. Evolução, esta, em benefício do cidadão e da sociedade!
Um exemplo concreto desse processo evolutivo poderá ser o desenvolvimento (e divulgação) da Consulta Farmacêutica. O exemplo europeu deste tipo de abordagem carece, ainda, de reconhecimento e desenvolvimento. O Canadá, por sua vez, tem sido pioneiro na valorização do farmacêutico!
Em Portugal, já existem modelos de Acompanhamento Farmacêutico, mas, na minha opinião, imperam (ainda) certos tabus/receios relacionados com a intervenção de outros profissionais em áreas que, outrora, eram de exclusiva intervenção médica.
São vários os trabalhos já publicados acerca de uma atuação conjunta das diferentes áreas de intervenção na Saúde. O utente é uma peça central onde todas as profissões de saúde encaixam e se complementam.
O farmacêutico é altamente competente em farmacoterapia e, atualmente, com a possibilidade de especialização em farmácia comunitária consegue aprofundar as suas hard e soft skills interventivas na comunidade.
A quantidade de serviços possíveis de disponibilizar nas farmácias comunitárias é bastante preponderante, nomeadamente a determinação de parâmetros bioquímicos, como hemoglobina glicada e o perfil lipídico, e testes rápidos de despiste infecioso, como teste para o Streptococcus A e teste de despiste de infeção urinária. Assim como, exames da área de cardiologia, citando por exemplo o Mapa 24/48h.
Falta, a meu ver, a capacidade política e decisora para integrar, realmente, o farmacêutico comunitário na rede de Cuidados de Saúde, reconhecendo, valorizando e comparticipando a Consulta Farmacêutica!
É, sobejamente, reconhecida a elevada acessibilidade geográfica, das farmácias, por todo o território nacional. Diria mais, em certos locais, são a única estrutura de saúde disponível capaz de prestar cuidados de proximidade.
O cidadão encontra-se, muitas vezes, perdido dentro do Sistema de Saúde. Atravessamos um momento com escassos recursos disponíveis.
Sem sair dos critérios éticos e legais definidos para a profissão, o farmacêutico comunitário poderá ter o seu papel valorizado na rede de Cuidados de Saúde, intervindo com a sua consulta numa abordagem de problemas de saúde minor ou fazendo, também uma avaliação que leve ao encaminhamento para outra instância major, mas com a vantagem de, neste caso, o utente já levar consigo informação validada e pertinente para avaliação médica e posterior diagnóstico!
Por tudo isto, concluo que a Consulta Farmacêutica pode (e deve) ser mais uma solução a apresentar aos cidadãos.
Sónia Nóbrega
Farmacêutica, especialista em Farmácia Comunitária