A Residência Farmacêutica: Um importante recurso ao dispor do Farmacêutico

Os farmacêuticos desempenham um papel vital na promoção da Saúde. Ao escolherem a Residência Farmacêutica (RF) estão a investir nas suas carreiras e na Saúde Pública, comprometendo-se com o seu crescimento pessoal e profissional, e abrindo portas para um futuro repleto de oportunidades. 

A RF prepara os residentes para uma carreira especial, autónoma, diferenciada e estruturada, de acordo com as necessidades dos serviços de Saúde e dos utentes. Promete desafios que impulsionarão crescimento e aprendizagem constantes. Enfrentar situações complexas e colaborar com equipas multidisciplinares irá desenvolver resiliência, capacidade de adaptação e relações interpessoais, características fundamentais para uma carreira de sucesso. 

O programa da RF proporciona uma experiência prática, que vai muito além dos conhecimentos adquiridos nas universidades e que permite obter capacidades clínicas e técnicas, que só podem ser adquiridas num ambiente real. A RF permite uma aprendizagem profunda e contínua com mentores experientes e a possibilidade de participar em projetos de investigação inovadores. Também possibilita a criação de redes de contactos, relações profissionais valiosas e novas oportunidades de carreira. 

O ano de 2023 constituiu um marco determinante para a profissão farmacêutica pois os primeiros residentes iniciaram um programa formativo que lhes abre perspetivas para o ingresso no quadro farmacêutico do Serviço Nacional de Saúde (SNS) e que conduz à sua especialização. Neste processo, a Ordem dos Farmacêuticos (OF) apoia os residentes na valorização das suas capacidades e competências.

O decreto-lei nº 6/2020 de 24 de fevereiro definiu o regime jurídico da RF para a obtenção de um título de especialidade numa das diferentes áreas: Análises Clínicas (AC), Genética Humana (GH) e Farmácia Hospitalar (FH). Estas áreas devem estar capacitadas para abraçar desafios futuros, gerando profissionais qualificados e com uma intervenção orientada para a obtenção de resultados em Saúde e para a sustentabilidade dos serviços de Saúde, nomeadamente o SNS.  

A promoção das áreas em que o farmacêutico se pode diferenciar nas AC e na GH, por apresentar uma mais-valia em relação aos profissionais com outras qualificações e que partilham com ele o mesmo espaço laboratorial, é considerada estratégica pela OF.

A formação académica que é disponibilizada ao farmacêutico confere ao analista clínico uma vantagem competitiva para o desenvolvimento de áreas emergentes das quais são exemplos: 

  • Biologia molecular;
  • Genómica e proteómica;
  • Farmacogenómica; 
  • Medicina personalizada; 
  • Medicina preditiva e de precisão; 
  • Técnicas para identificar e monitorizar biomarcadores associados a tratamentos com fármacos inovadores ou medicamentos biológicos.

Estas áreas emergentes podem contribuir para a diferenciação laboratorial e os farmacêuticos devem investir nelas para ocupar lugares de destaque em toda a inovação que está a acontecer. 

Nas próximas décadas, os farmacêuticos especialistas em AC e em GH vão continuar a ter um papel nuclear no setor, onde a aposta na formação e na capacitação será preponderante. A RF assegura também a excelência na prática farmacêutica hospitalar, beneficiando diretamente a qualidade assistencial. Torna-se urgente apostar no rejuvenescimento destas áreas, com o propósito final de desenvolver um setor imprescindível nos cuidados de Saúde e no SNS.

 

Prof. Doutora Maria Leonor Correia

Contribution of Pharmacoeconomics to Enhancing the Pharmaceutical Industry Development

The culture of evidence-based healthcare, quality-linked incentives, and patient-centered actions, driven by the natural financial constraints on health systems budgets, led to a growing interest by decision and policymakers in expanding Health Technology Assessment (HTA) criteria to Pricing and Reimbursement (P&R) of a given technology (e.g., drug, vaccine, procedure, service), especially in disease areas with high unmet need or significant health and economic impact. Thus, in the past years, most administration and regulatory bodies around the globe improved their technologies’ approval procedures to be grounded on scientifically sound, cost-effective evidence aiming at maximizing value for patients, healthcare payers and society in light of increasingly limited healthcare resources. 

Pharmacoeconomics, broadly defined as the branch of health economics that measures the costs and outcomes (risk/benefits) associated with the use of health technologies is one of the central pieces of the P&R process that relies on the findings of different types of analyses (such as cost-of-illness, budget impact and cost-effectiveness analysis) for the decision-making. Yet, for this process to occur, the involvement of relevant stakeholders, such as the pharmaceutical industry, is strongly advised as it can strengthen the legitimacy of HTA as well as increase transparency, acceptance, and use of health products. Although Pharmacoeconomics may be time consuming, expensive, and a complex process (considering the need of several resources), it is indispensable for pharmaceutical industries to communicate the value of their products to external decision-makers (i.e., payers, prescribers) as well as to anticipate and achieve regulatory and reimbursement approvals. 

Moreover, technologies that undergo economic evaluations are perceived to have an ‘added value’, which may contribute towards their commercial success (marketing and promotion strategies). Additionally, considering that the research and development (R&D) of new technologies is long and costly, the use of Pharmacoeconomics in early development phases may provide useful and internal (for the company) inputs into the design of clinical development programmes, portfolio management and optimal pricing strategies which are likely to increase the efficiency of R&D resources use. Yet, most pharmaceutical industries outsource these activities to contracted companies or partners (e.g., private associates, consultant services, universities) that are specialized in performing economic evaluations. 

Although simpler models, usually in more advanced phase of products’ life cycle (III or IV), can be performed in-house (considering that executives in departments handling price and reimbursement are often familiar with or have an educational background of HTA methods), most industries prefer to hire external services aiming at having more impartial and valid analysis. Nonetheless, given the above-mentioned contributions of Pharmacoeconomics to the pharmaceutical industry, the investment in specialized in-house health economics and outcomes research (HEOR) departments alongside with increased awareness and support for HTA capacity building are paramount to further advance both the company and the Healthcare field.

 

Fernanda Stumpf Tonin, PhD/Professor

Get to Know the Alumni – Carolina Nunes

“O meu nome é Carolina Nunes, tenho 24 anos e no ano de 2017 entrei na Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa, a minha primeira opção de escolha, fascinada pelo organismo humano e com uma grande preferência pela área da Saúde. Rapidamente percebi que o Mestrado Integrado em Ciências Farmacêuticas não seria constituído apenas pelo que mais me interessava, muito menos apenas pelo que eu tinha mais aptidões para desenvolver, mas também que lhe faltava uma grande componente: as tão frequentemente chamadas “soft skills”, o ensino prático, a preparação para o mercado de trabalho e verdadeira alavanca para o futuro que nos espera. 

 

Foi com este reconhecimento das lacunas do MICF que surgiu a minha candidatura à LisbonPH e, em março de 2019, tornei-me Gestora de Projeto. Tive a oportunidade de gerir vários projetos e, assim, desenvolver as minhas capacidades de gestão de tempo, priorização e, acima de tudo, gestão de equipa e contacto interpessoal com personalidades distintas. Em março de 2020 tornei-me Diretora do Departamento de Projetos e o desafio aumentou: fomentou a minha liderança, adaptação a situações inesperadas e muita flexibilidade, para além de pôr à prova a minha gestão de esforço e pensamento estratégico. Tive ainda a grande oportunidade de fazer parte de um projeto internacional, com a organização de um evento europeu em Bruxelas com uma equipa de variadas nacionalidades e culturas, que enriqueceu sem medida o meu percurso. É com grande certeza que afirmo que a minha experiência na LisbonPH complementou da melhor forma o conhecimento científico que obtive com o MICF, acrescentando-lhe valor a nível pessoal e profissional.

 

Em 2022 terminei o curso e tornei-me Farmacêutica Comunitária. Neste primeiro ano de percurso profissional, esta função permitiu-me ter contacto direto com o doente, com as suas necessidades e dificuldades, e tive o privilégio de poder fazer a diferença de forma direta na vida de quem procura a ajuda do farmacêutico. Ainda que se trate de uma posição de desgaste físico e psicológico, retirei experiências valiosas a nível pessoal e profissional, trabalhei a minha postura de resiliência e aprendizagem constante, para além de fomentar o meu conhecimento científico.

 

Em setembro de 2023 tive o privilégio de me tornar Trainee na Johnson & Johnson Innovative Medicine Portugal, nas áreas de Farmacovigilância e Qualidade, onde o desafio da gestão de tempo e esforço continua presente, aliado a uma experiência sem paralelo de aprendizagem e evolução permanente, e um grande entusiasmo com tudo o que ainda está para vir.

 

A candidatura à LisbonPH nunca foi para mim uma dúvida, muito menos esteve em questão a minha vontade de poder fazer mais e melhor ao aproveitar todas as oportunidades que estar na LisbonPH me poderia dar. Foi dessa forma que encarei essa grande viagem e são estas mesmas experiências e motivações que continuo a levar no meu percurso, onde a LisbonPH, inevitavelmente, está sempre presente.”

A qualidade do sono e o consumo de fármacos hipnóticos em Portugal

O sono ocupa um terço das nossas vidas, desempenhando um papel fundamental na recuperação de energias para o dia seguinte. Nesse âmbito, é essencial para o desenvolvimento cognitivo, bem como para a consolidação da memória, o equilíbrio metabólico e a regulação imunológica e cardiovascular.

 

A privação crónica do sono ou outros distúrbios de sono têm, por isso, associados riscos de obesidade, riscos acrescidos de infeções e impacto cardiovascular grave, com aparecimento de patologia cardíaca, hipertensão arterial, diabetes mellitus e patologia cerebrovascular.

 

A nossa sociedade inquieta não respeita o sono. Dormimos pouco e mal. O nosso dia sobrecarregado aos níveis profissional, familiar e social, pensa no sono como um adversário para a produtividade e diversão. Como tal, a má higiene do sono é cada vez mais marcante na nossa sociedade, com rotinas de sono (horários de deitar/acordar) irregulares, uso de dispositivos eletrónicos e consumo de álcool e café ao deitar.

 

A insónia é o distúrbio de sono mais frequente – aproximadamente 50% da população já teve um episódio de insónia aguda em alguma fase da sua vida, normalmente secundária a algum fator de instabilidade emocional e ansiedade. A insónia crónica caracteriza-se por má qualidade do sono no contexto de dificuldade em iniciar o sono, despertar a meio da noite ou por despertar mais cedo de manhã que o desejado, e que ocorre durante, pelo menos, três meses. A prevalência nestes casos é de cerca de 25%.

 

A má qualidade do sono afeta negativamente o dia do doente, com sensação de sono não reparador, dificuldade em concentração, falta de energia, distúrbios do humor (irritabilidade, agressividade), diminuição de rendimento escolar e laboral, com impacto no absentismo. A insónia pode estar presente em até 40% dos doentes com depressão e ansiedade.

 

O sono não deve ser tomado como garantido. Para o cuidar temos de ter bons hábitos e boa higiene do sono. A qualidade de sono dos portugueses é má. A mudança de hábitos é difícil de concretizar por relutância para o fazer, procurando soluções mais rápidas, como uso de hipnóticos, que como sabemos apresentam consumos elevados no nosso país.

É importante também o reconhecimento e o diagnóstico atempado da insónia e perceber que, nestes casos, o tratamento é mais que o uso de hipnóticos (benzodiazepinas ou zolpidem) e que a terapia cognitiva-comportamental é reconhecidamente mais efetiva para o tratamento destes doentes.

O Futuro das Técnicas de Procriação Medicamente Assistida

A infertilidade é uma preocupação crescente em todo o mundo e a Organização Mundial de Saúde (OMS) tem alertado para o aumento significativo da incidência desta patologia.

Estatísticas recentes sugerem que cerca de 15% da população mundial é infértil. 

Embora a atenção dada às mulheres seja justificada, dado o seu papel crucial na gravidez, o estudo da Saúde Reprodutiva dos homens é muitas vezes negligenciado. No entanto, é importante salientar que 50% dos casos de infertilidade envolvem o fator masculino. É ainda crucial desmistificar a ideia de que a infertilidade é um problema que afeta principalmente as mulheres. Quando falamos sobre a infertilidade masculina, é importante lembrar que cada espermatozoide transporta informações genéticas e epigenéticas únicas que podem ter um impacto significativo na saúde das gerações futuras. 

Estudos recentes da nossa equipa mostraram que a dieta durante a infância pode afetar a qualidade espermática na idade adulta. Da mesma forma, o estilo de vida, incluindo a dieta, pode ter um impacto na qualidade do esperma e na informação transmitida à descendência. Diversos estudos, incluindo da nossa equipa, têm demonstrado que uma dieta rica em gordura pode alterar a informação epigenética no espermatozoide e afetar negativamente a saúde metabólica dos filhos. Para enfrentar esses desafios é fundamental melhorar os meios de preparação de gâmetas para as técnicas de Procriação Medicamente Assistida (PMA) e identificar informações epigenéticas prejudiciais que possam ser transmitidas para a descendência e impactar a sua saúde. 

A criopreservação de gâmetas é também um tópico que merece destaque como medida preventiva à diminuição da qualidade com a idade, exposição a compostos químicos e tratamentos médicos, entre outros. Além disso, é fundamental promover uma maior conscientização sobre a infertilidade masculina e incentivar a realização de exames preventivos, a fim de detetar possíveis problemas de fertilidade precocemente. Infelizmente, muitos homens ainda se sentem desconfortáveis em discutir questões relacionadas à fertilidade, o que pode levar a um diagnóstico tardio e a uma abordagem inadequada do problema. Portanto, é necessário um maior investimento na investigação e conscientização sobre a infertilidade masculina para promover o bem-estar das gerações futuras. 

A investigação deve se concentrar em maneiras de melhorar a qualidade do esperma e identificar os fatores que afetam negativamente a fertilidade masculina, bem como nos fatores prejudiciais para a saúde da descendência que podem ser transmitidos pelo espermatozoide. Além disso, deve haver um esforço contínuo para educar os homens sobre a importância de conhecerem a sua fertilidade. 

Em resumo, a infertilidade masculina é um problema que não tem tido a atenção que merece. Com a conscientização adequada, um maior investimento na investigação e uma abordagem preventiva, podemos garantir que os casais tenham filhos saudáveis e felizes.

  • Doutor Marco Alves

Investigador no Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS)

The benefits of fitness for Mental Health

You want to get your body to look a certain way. Whether it’s adding more muscles or losing fat, you want to know what exercises will get you there. 

But here’s the thing. 

Exercising has far too many other benefits, especially for Mental Health. Yes, you can achieve a certain body composition with it. But that’s more the aesthetics of it. How exercise benefits your Mental Health is actually pure magic. 

What does exercising do that is more beneficial than changing the way you look? 

  1. It makes you feel energetic. When you exercise, you are sending more oxygen to your tissues. This improves your cardiovascular system. That’s your heart and lung health. And when your heart and lungs do well, you have more energy; 
  2. It helps you relieve stress. Exercise reduces levels of the body’s stress hormones, such as adrenaline and cortisol. And it increases the feel good hormones – endorphins. Exercising is also like playing. You keep your body focused on working out or walking or anything that you enjoy, and your mind is no longer thinking about everyday life chores;
  3. Exercise naturally helps you reduce anxiety and depression. When you are exercising, you are present in the moment. Whether you are running or lifting heavy weights, you have to focus on your breath, form and how you are feeling during the activity. That makes you fully present in the moment. It’s the easiest way to practice mindfulness;
  4. Exercising makes you feel confident. Your strength improves, your endurance improves, your posture gets better, your energy levels get higher, you look good in clothes that you wear. And all this translates to you feeling confident. It’s a great way to boost self-esteem;
  5. It helps you sleep better. And we all know, sleep is an underrated superpower that actually helps us do more. Exercising increases body temperature. This inturn has a calming effect on the mind. And that inturn helps you sleep better. Just be careful to not exercise too close to bedtime;
  6. Exercising is great for brain power. When you exercise, your brain produces new cells – a process called neurogenesis. That process helps strengthen the hippocampus. This helps prevent cognitive decline as we age, especially dementia and Alzheimer’s.  

     

    How often should you exercise? If possible, everyday for 20-30 minutes. If not, 4-5 times a week. Do you have to go to the gym? No! Walk around your neighbourhood, that works too. 

    What form of exercise should you do? Any form that you enjoy – running, Tennis, walking, dancing. It doesn’t matter.

    Make time for it. Prioritise your Health. It’s your first foundation. And if your foundation is weak, it will crumble as you try to build on it. 

    You owe it to your mind and body to take care of it, because you only get one.

    Priyamvada S.



Vacinas contra o cancro: uma abordagem com potencial por explorar

O cancro é uma das doenças mais prevalentes a nível global, afetando anualmente milhões de pessoas em todo o mundo, com um impacto enorme nos doentes, nas famílias, nos sistemas de saúde e na sociedade em geral. Apesar do progresso extraordinário que tem sido alcançado nas últimas décadas do ponto de vista clínico, alicerçado em tratamentos como a cirurgia, radioterapia e quimioterapia, terapêuticas completamente curativas (isto é, que resultem numa cura total dos doentes) continuam a ser minoritárias, estando muitas vezes dependentes do estadio de avanço da doença aquando do diagnóstico. Neste contexto, as vacinas contra o cancro apresentam potencial para, ao longo dos próximos anos, serem mais uma opção no arsenal de “ferramentas” à disposição dos oncologistas. 

Ao contrário de outras modalidades terapêuticas como a quimioterapia, que geralmente “atacam” células com elevada capacidade proliferativa anormais (como células cancerígenas) e também células saudáveis (como folículos capilares), as imunoterapias atuam a nível do sistema imunitário, estimulando o mesmo para que possa reconhecer as células tumorais como células anormais, e as elimine. 

Já existem atualmente em uso clínico vários fármacos “imunoterapêuticos”, sendo os anticorpos inibidores de checkpoints imunitários (como o pembrolizumab) os que maior sucesso clínico têm revelado no tratamento de alguns tipos de cancro. 

No caso das vacinas contra o cancro, distinguem-se dois tipos principais, diferenciadas pelo seu modo de ação:

  • Vacinas preventivas: atuam de forma muito semelhante às vacinas tradicionais contra doenças infeciosas (como a gripe), sendo administradas de forma preventiva para criar memória imunitária contra determinados agentes infeciosos (em especial vírus), impedindo ou limitando a capacidade dos mesmos em causar doença após infeção.  

O exemplo mais conhecido é a vacina contra o papilomavírus humano (HPV), que faz parte do plano nacional de vacinação para prevenção do cancro do colo do útero.

  • Vacinas terapêuticas: são administradas após um diagnóstico de cancro, com o objetivo de estimular o sistema imunitário a reconhecer e eliminar especificamente as células cancerígenas. 

Um dos exemplos nesta categoria é a Provenge® (Sipuleucel-T), uma vacina aprovada pelas autoridades de saúde dos EUA (FDA), para tratamento do cancro da próstata avançado, que revelou um aumento na sobrevida global dos doentes em ensaios clínicos. É uma vacina personalizada, que envolve recolha de células imunitárias do doente, exposição a uma proteína encontrada nas células tumorais, e posterior re-infusão. De notar que esta vacina já não possui autorização para administração em países regulados pela Autoridade Europeia do Medicamento (EMA).

A personalização é um dos fatores mais atrativos das vacinas terapêuticas. Ao serem adaptadas às mutações existentes nos tumores dos doentes, estas vacinas podem ser altamente eficazes (e apresentarem menos efeitos secundários) porque têm como alvo antigénios específicos que existem apenas nas células tumorais do doente (e não nas células saudáveis). 

Apesar de resultados promissores em ensaios clínicos, as vacinas contra o cancro enfrentam ainda vários desafios, sendo de destacar (i) a capacidade de supressão imunológica dos tumores, que faz com que as células imunitárias possam perder atividade e eficácia no microambiente tumoral, (ii) a heterogeneidade em termos de resposta clínica, já que nem todos os pacientes respondem às vacinas e a sua eficácia, podendo variar com base no tipo de cancro e nas características individuais, e (iii) o custo e acessibilidade, já que o desenvolvimento de vacinas personalizadas exige recursos e infraestrutruras especializadas que podem torná-las dispendiosas e menos acessíveis para os doentes. 

Numa perspetiva global, não revelando, neste momento, potencial curativo quando utilizadas como terapia única, as vacinas poderão constituir uma abordagem complementar que melhore a resposta clínica e a qualidade de vida dos doentes. À medida que a investigação clínica na área das imunoterapias e medicina personalizada se desenvolve, e a otimização de métodos de fabrico permite a redução de custos de produção, é expectável que as vacinas contra o cancro sejam incluídas num regime normal de tratamento dos doentes, tornando cada vez mais possível que o tratamento do cancro seja curativo para a maioria dos doentes.  

 

Pedro M. Costa

Diretor de Operações

Stemmatters, Biotecnologia e Medicina Regenerativa SA



Get to Know the Alumni – Mafalda Galveia

Olá a todos! O meu nome é Mafalda Galveia, tenho 25 anos e sou mestre em Ciências Farmacêuticas. Atualmente, trabalho na área da Dermocosmética e sou Marketing Intern da Eucerin na Beiersdorf.

É um privilégio poder dizer que o meu percurso profissional começou durante a faculdade, quando ingressei no Departamento de Inovação e Científico da LisbonPH, em 2019. É a primeira experiência onde temos o verdadeiro contacto com o mundo empresarial e que nos dá uma realidade do que vai ser o nosso futuro ao ingressar no mercado de trabalho. Damos o nosso contributo na área da Saúde e vemos projetos impactantes a crescerem de raiz. Aprendemos a gerir tarefas com outros departamentos, a estabelecer prioridades e, acima de tudo, adquirimos formações e ferramentas que nos permitem uma diferenciação positiva quando nos recrutam para uma equipa. 

Fiz parte da estrutura numa altura muito desafiante, quando a Júnior Empresa teve de se adaptar rapidamente à realidade da pandemia e investir todas as suas cartas na vertente online. Apesar das adversidades, acompanhámos as tendências e continuámos o legado empreendedor, criativo e multidisciplinar. Foi aí que estive no desenvolvimento de um projeto ligado à Dermocosmética e percebi qual a área que mais me concretizava. A determinação e o foco constantes no meu percurso na LisbonPH foram determinantes para alcançar os meus objetivos – comecei por estagiar na Pierre Fabre Dermo-Cosmétique e neste momento estou na Beiersdorf.

O conselho mais sincero que posso dar é tirarem o maior partido do que a LisbonPH vos dá: estarem sempre prontos para novos desafios, mostrar interesse em aprender, dar o melhor contributo e não ter medo de arriscar. Todos os dias são oportunidades para mostrarem porque é que fazem a diferença! É verdade sempre que ouvirem “tudo o que derem à LisbonPH, receberão a dobrar.” Desejo-vos muito sucesso no futuro profissional.



O risco dos Acidentes Vasculares Cerebrais (AVC) no desenvolvimento de demências e Alzheimer

A Doença Vascular Cerebral é muito frequente e causadora de vários síndromes clínicos. O Acidente Vascular Cerebral (AVC) tem uma conotação com a instalação relativamente súbita de défice neurológico. A designação anglo-saxónica usada, stroke1, evoca bem essa noção de rapidez com que se instalam os sintomas. Estes resultam de isquemia por obstrução dos vasos, ou por hemorragia devida à rutura desses mesmos vasos. Por vezes instala-se faseadamente, com a repetição de AVC.

Nalguns casos, o doente pode perder capacidades cognitivas anteriormente existentes e desenvolver demência. A demência é uma síndrome com várias etiopatogenias, e que resulta da perda ou disfunção de capacidades cognitivas prévias e com intensidade capaz de interferir com as atividades da vida diária.

No caso de estar associada, temporal e etiologicamente, a doença vascular cerebral tem o nome de Demência Vascular. Outras demências, muito prevalentes, como a demência de Alzheimer, têm causas próprias, muitas vezes referidas como neurodegenerescência. 

No entanto, foi-se acumulando evidência científica de que existe um espetro de patologia vascular desde a Demência Vascular até à Doença de Alzheimer, e um grande grupo de doentes com patologia mista (Neurology 2009;72: 368-374). Isto é, nalguns doentes podem coexistir causas neurodegenerativas e causas vasculares. Essa patologia vascular não se resumiria ao stroke com as clássicas lesões na distribuição dos grandes vasos, mas também outras pequenas lesões postas em evidência sobretudo graças às técnicas de imagem e estudos vários subsequentes. A RMN cerebral revela, em muitos doentes, pequenas lesões subcorticais, traduzidas por hiperintensidades da substância branca, enfartes lacunares ou microhemorragias, e que pareciam acompanhar o declínio cognitivo desses doentes. Mais, parecia que as alterações vasculares descritas poderiam atuar sinergisticamente, ou concomitantemente com a patologia de Alzheimer, produzindo uma disfunção cognitiva maior do que cada patologia isoladamente. 

Chegou-se assim ao conceito de Doença de Pequenos Vasos que afetaria a microvascularização cerebral profunda e incluiria disfunção da barreira hematoencefálica, alteração da vasodilatação, da rigidez vascular, da circulação sanguínea e da drenagem de fluidos intersticiais, rarefação da substância branca, isquemia, inflamação, lesão da mielina e neurodegenerescência secundária (Lancet Neurol 2019; 18:684-96). As causas e a apresentação são muito diversas, desde as formas esporádicas comuns até formas raras de origem heredofamiliar. De qualquer modo a Doença de Pequenos Vasos tem assumido cada vez mais um papel central nas causas de demência e contribuído, como causa, para cerca de cinquenta por cento de todas as demências.

A Lancet Commission on Dementia prevention, intervention and care (Lancet 2020; 396: 413-46) identificou 12 fatores modificáveis e, entre eles, a hipertensão na meia-idade, a diabetes, e a obesidade. Também o estudo WW-FINGERS (Alzheimers Dement 2020; 16:1078-94) realça a importância do controlo vascular e do risco metabólico como prevenção na demência. Isto traduz a importância da patologia vascular cerebral em grande parte das causas de demência, e a possibilidade de tratamento preventivo. 

 

Stroke1 – No ICD-11 (2022), as Doenças Cérebro Vasculares, em bloco, foram finalmente integradas no Capítulo das “Doenças do Sistema Nervoso”.


O Papel da Empatia na Construção de Relações Sociais Saudáveis

A empatia, referida pela psicologia como “calçar os sapatos do outro”, refere-se à capacidade de compreender aquilo que outra pessoa pode estar a passar, tendo em conta as suas vivências prévias e a sua experiência de vida. Para além da própria compreensão, abrange também uma disponibilidade afetiva para que possamos assimilar o que vemos e ouvimos, e para que nos possamos emocionar com a outra pessoa, sempre que se justificar, estando alinhados com a sua emoção.
Quero com isto dizer que uma postura empática consiste, por exemplo, em olhar para alguém que está triste, entender essa tristeza de acordo com o referencial, ou seja, a experiência de vida dessa pessoa (tendo em conta a sua bagagem, como eu costumo dizer na prática clínica) e sentir também um pouco dessa tristeza face à compreensão profunda do que essa pessoa está a sentir e do impacto que essa emoção tem em si especificamente.
Assim, a empatia constitui uma ferramenta para relações humanas saudáveis, no geral, e não se deve restringir unicamente à relação terapêutica entre psicólogo/a e cliente. Na verdade, todos nós queremos ser ouvidos e acolhidos com empatia, certo?
Esta empatia pode ser demonstrada de forma verbal ou não verbal e procura, no âmbito das relações sociais, compreender a realidade das pessoas com quem nos cruzamos e convivemos, validando o que sentem. Assim, no nosso dia a dia, podemos demonstrar empatia através de ferramentas como a escuta ativa, a validação, o acolhimento do outro, e o permitir expressar emoções, que tantas vezes são invalidadas (por vezes até inadvertidamente).
A empatia permite uma facilitação das relações sociais e contribui para que estas sejam mais adaptativas, na medida em que permite aos elementos de um grupo sentirem-se integrados e validados, potenciando a manifestação de quem realmente somos, sem filtros, e independentemente daquelas que serão as nossas idiossincrasias, promovendo também o nosso sentimento de pertença e vinculação ao grupo.
Nas relações, esta postura empática e aberta para com o outro facilita-nos o criar laços e o estabelecer conexões com mais abertura emocional.

Como pôr a teoria em prática?
Costumo dizer que não somos robots e não é meramente um cliché. Não somos os mesmos e todos carregamos a nossa bagagem com experiências (mais e menos felizes, claro) e agimos/reagimos em função das aprendizagens que daí advêm. Ter uma postura empática implica recordar isto todos os dias, com todas as pessoas que nos rodeiam. Implica ouvir com interesse, sem julgamento e com um cuidado genuíno para ouvir mesmo. Implica transmitir ao outro que estamos ali e estar mesmo. Implica uma postura corporal recetiva e compassiva e uma palavra de compreensão e honestidade que pode ir desde “acredito que isso seja mesmo difícil” a “não consigo imaginar aquilo por que estás a passar, mas estou aqui para que possas falar sobre como te sentes”.
Outra expressão da psicologia para a empatia inclui “segurar o outro com o ouvido”, e acho que conseguimos perceber porquê. Se todos os dias nos lembrarmos disto e procurarmos perceber como pôr a empatia em prática, as nossas relações serão, certamente, mais saudáveis.

Dalila Melfe
Psicóloga (CP 25204)