O Impacto do Empreendedorismo Jovem

O Empreendedorismo é muito mais do que Inovação. É coragem, paixão e uma vontade de transformar ideias em realidade, características que definem os jovens empreendedores da atualidade.

O conceito de empreendedorismo surgiu, pela primeira vez, em 1755, tendo sido introduzido pelo economista irlandês Richard Cantillon. O autor diferenciou os trabalhadores assalariados com rendimentos fixos dos trabalhadores assalariados sem rendimentos fixos, colocando os empreendedores neste segundo grupo, ressaltando assim a natureza aventureira e arriscada inerente às suas atividades. No século XX, o economista Joseph Schumpeter, veio introduzir um conceito mais realista, designando o empreendedorismo como uma força motriz de inovação, capaz de revolucionar as estruturas económicas.

Com o tempo, o conceito de empreendedorismo evoluiu e, hoje, os jovens têm-se destacado como os protagonistas desta transformação.

O relatório Global Entrepreneurship Monitor (GEM), correspondente aos anos 2023-2024, destaca a evolução e o crescimento significativo do empreendedorismo jovem no mundo. Há uma tendência crescente entre os jovens de criar negócios com impacto ambiental e social positivo, frequentemente utilizando tecnologias emergentes para resolver problemas globais.

As verdadeiras motivações para empreender entre os jovens focam-se, primeiramente, na sua paixão pela inovação, sendo o empreendedorismo a oportunidade perfeita para transformar ideias em realidade. O impacto social também é, cada vez mais, um dos principais motores do empreendedorismo, nomeadamente a motivação de poder fazer a diferença em questões sociais e ambientais.

Em Portugal, um dos verdadeiros simbolismos do empreendedorismo jovem reflete-se através do Movimento Júnior, o movimento que apoia e promove a criação e o crescimento de Júnior Empresas e que conta já com 25 Júnior Empresas e mais de 1250 Júnior Empresários.

Estas associações sem fins lucrativos são criadas e geridas unicamente por estudantes universitários, motivados em complementar o seu percurso académico através de uma experiência mais prática e semelhante ao mercado de trabalho.

A cultura organizacional de uma Júnior Empresa assemelha-se em muito à realidade do mercado de trabalho, possibilitando aos membros a realização de tarefas como construção de planos estratégicos, realização de estudos de mercado, planos de marketing e financeiros e até processos de internacionalização. Adicionalmente, a preocupação pela Responsabilidade Social Corporativa e pela Sustentabilidade são pilares cada vez mais presentes nas preocupações dos jovens empresários.

Na LisbonPH, Júnior Empresa da Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa, a nossa missão foca-se no desenvolvimento de projetos para o Profissional de Saúde do futuro, empreendedor, criativo e multidisciplinar. Este trabalho diário realizado por todos os membros permite o desenvolvimento de competências muito úteis na entrada para o mercado de trabalho. Através do mote de “learning by doing”, a LisbonPH é uma escola que dá aos seus membros espaço para serem diferentes, inovadores, sonhadores, ambiciosos e resilientes.

O Empreendedorismo jovem não é apenas o futuro, é o presente! E em associações como a LisbonPH, o caminho está aberto a todos aqueles que, connosco, desejem aprender, inovar, criar impacto e fazer a diferença. 

 

Marta Bolaños

18 de novembro de 2024

Get to Know the Alumni – Afonso Carvalho

PT

A LisbonPH destaca-se como a melhor plataforma complementar de lançamento que os estudantes do Mestrado Integrado em Ciências Farmacêuticas da Universidade de Lisboa têm para poderem contactar desde cedo com o mercado de trabalho e com projetos realmente inovadores.” Uma frase que é dita por todos os que por lá passam e que, atualmente, posso afirmar que é efetivamente verdade.

O meu percurso na LisbonPH começa como membro e depois diretor do Departamento Inovação e Científico, percurso esse que me tornou no profissional que sou atualmente e que me deu muito mais do que eu estava à espera. Fazer parte da LisbonPH é fazer parte de um grupo de pessoas destemidas e cujo único limite é a nossa própria ambição que temos em desenvolver projetos de valor acrescentado não só para a Júnior Empresa, mas também para a população e para os Profissionais de Saúde. Durante os 2 anos que estive na LisbonPH fui responsável pela criação da plataforma e de cursos e-Learning da Júnior Empresa bem como pela implementação de uma cultura de inovação que visa potenciar e maximizar a angariação de clientes e projetos. Estive também envolvido em projetos desafiantes de autoria da LisbonPH como é o caso do PitchPH em que damos aos alunos do 5.º ano a oportunidade de fazerem um pitch a empresas da Indústria Farmacêutica e também no projeto IDAI, que permite que os estudantes possam apresentar um projeto inovador em que a LisbonPH depois apoia o desenvolvimento do mesmo. Numa ótica mais de educação na saúde, também estive envolvido na criação e desenvolvimento dos 3 webinars relacionados com a COVID-19 que contou com key players da área e cujo principal objetivo foi desmistificar muitos mitos que existiam.

Atualmente sou Associate Product Manager Neurology na BIAL e posso dizer seguramente que a LisbonPH é a melhor rampa de lançamento que podemos ter antes de entrarmos no mercado de trabalho pois para além de estarmos envolvidos em projetos diferenciadores, ensina-nos hard e soft skills imprescindíveis. Aprendemos a errar e a aprender com os erros, ensina-nos a lidar e ultrapassar desafios e, mais importante, deixa-nos sonhar e dá-nos todas as ferramentas necessárias para que possamos lutar pelos nossos sonhos. É um local onde todos rumamos no mesmo sentido, com um espírito de equipa tremendo e onde cada um de nós vai até onde quer.

 

EN

LisbonPH stands out as the best complementary launch pad for students on the Integrated Master’s Degree in Pharmaceutical Sciences at the University of Lisbon, so that they can get in touch with the job market and really innovative projects from an early stage.” This is a phrase often said by everyone who passes through it, and today, I can confidently say that it is truly accurate.

My journey at LisbonPH began as a member and later as the director of the Innovation and Scientific Department, a journey that has made me the professional I am today and has given me much more than I expected. Being part of LisbonPH means being part of a group of fearless individuals whose only limit is the ambition to develop value-added projects, not only for the Junior Enterprise but also for the community and Healthcare Professionals. During my two years at LisbonPH, I was responsible for creating the platform and e-learning courses for the Junior Enterprise, as well as implementing a culture of innovation aimed at boosting and maximizing client and project acquisition. I’ve also been involved in challenging projects authored by LisbonPH, such as PitchPH, in which we give 5th-year students the opportunity to present a pitch to companies in the pharmaceutical industry, and the IDAI project, which allows students to present an innovative project in which LisbonPH then supports its development. From a more health education perspective, I was also involved in the creation and development of the 3 webinars related to COVID-19 that featured key players in the field and whose main objective was to demystify many myths that existed.

Currently, I am an Associate Product Manager Neurology at BIAL, and I can safely say that LisbonPH is the best launch pad we can have before entering the job market because, as well as being involved in differentiating projects, it teaches us essential hard and soft skills. We learn to make mistakes and learn from mistakes, it teaches us how to deal with and overcome challenges and, most importantly, it lets us dream and gives us all the tools we need to fight for our dreams. It’s a place where we’re all heading in the same direction, with a tremendous team spirit, and where each of us goes as far as we want.

NSP: As Novas Drogas de Abuso

O termo “DROGA” aplica-se usualmente a qualquer substância psicoativa ilícita controlada pelos Tratados das Nações Unidas sobre Drogas, nomeadamente a Convenção Única sobre Estupefacientes, de 1961 (emendada pelo protocolo de 1972) e a Convenção sobre as Substâncias Psicotrópicas, de 1971. Estas convenções abrangem, por exemplo, partes de plantas, como as folhas de coca e o ópio, produtos naturais (cocaína, morfina), compostos hemi-sintéticos (heroína, LSD), ou sintéticos, como as anfetaminas. 

No sentido mais lato, o termo “DROGA” pode designar qualquer substância que cause efeito no sistema nervoso central e, quando associada a consumos abusivos, provoca frequentemente dependência. O álcool e a nicotina estão englobados nesta definição mais abrangente de droga.

Desde 2005, começou a surgir uma grande variedade de novas drogas de abuso no mercado das substâncias ilícitas, as quais foram designadas por Novas Substâncias Psicoativas. O termo NSP designa substâncias de abuso, puras ou em preparações, de origem natural ou sintética, que não são controladas pelos referidos Tratados, mas que podem representar uma ameaça para a Saúde Pública comparável com as substâncias enumeradas nessas Convenções. As NSP têm surgido com o propósito de representarem alternativas legais às drogas proibidas como, por exemplo, a cocaína, anfetaminas, ou canábis. Salienta-se que o termo “Nova” não se refere à descoberta de uma nova substância química, mas sim ao seu recente aparecimento nos mercados ilícitos. 

Alguns exemplos de NSP são: a planta Sálvia divitorium e respetivos constituintes salvitorina A e B; o  gás óxido nitroso; e uma variedade de compostos sintéticos como por exemplo a benzilpipreridina, 4-AcO-MET (4-acetoxi-N-metil-N-etiltriptamina), pFPP (p-fluorofenilpiperazina), 3.4-DMMC (3, 4-dimetilmetcatinona) e pravodolina.

As NSP são maioritariamente compostos sintéticos produzidos em laboratórios ilícitos com o intuito de mimetizarem os efeitos psicoativos das drogas ilegais, mas têm uma estrutura química diferente para escaparem às penalizações sociais e legais associadas às drogas proibidas. A nível mundial, até ao final de 2023, foram reportadas cerca de 1235 NSP ao UNODC (Gabinete das Nações Unidas sobre Drogas e Crime). Na Europa, até ao final 2022, já foram reportadas mais de 930 NSP ao EMCDDA (Observatório Europeu da Droga e da Toxicodependência), representando os canabinóides sintéticos e as catinonas sintéticas – os dois maiores grupos de NSP monitorizadas.

Tendo surgido inicialmente como substâncias legais de fácil acesso através da internet, criou-se a falsa ideia de que as NSP poderiam ser mais seguras do que as drogas proibidas. Os casos reportados de intoxicações agudas e fatais associados ao consumo de NSP levaram a que muitas destas substâncias fossem consideradas ilegais em diversos países. Atualmente, 78 NSP já estão listadas nas convenções internacionais sobre drogas, sendo por isso consideradas drogas ilícitas. Na 67ª reunião (março 2024) da Comissão de  Estupefacientes das Nações Unidas (CND) foram adicionadas mais 5 NPS, butonitazeno, 3-clorometcatinona, dipentilona, 2F-DCK (2-fluorodesclorocetamina) e bromozolam. 

No entanto, à medida que se vão controlando as NSP, surgem rapidamente novas substâncias sintéticas nos mercados, originando uma escassez de informação referente aos seus efeitos farmacológicos e toxicidade, o que contribui para que estas substâncias representem um grave problema de Saúde Pública.

30 de Março de 2023,

Helena Gaspar 

Departamento de Química e Bioquímica, Faculdade de Ciências da ULisboa

Vacinação Gripe e COVID-19 na Farmácia

Em Portugal, as Farmácias interagem, diariamente, com 560 mil pessoas, o que representa mais de 5% da população do país. Esta proximidade com as comunidades torna as Farmácias locais de eleição não apenas para o seu reconhecido e tradicional papel na acessibilidade ao medicamento e otimização da sua efetividade e segurança, mas também para a prestação de outros cuidados de Saúde.

Devido à capilaridade da rede e à competência para a administração de vacinas por parte dos Farmacêuticos Comunitários, as Autoridades de Saúde portuguesas decidiram incluir as Farmácias na campanha de vacinação sazonal de 2023/24 contra a gripe e a COVID-19, em complementaridade com os centros de Saúde do SNS. Essa decisão foi apoiada pelos bons resultados de projetos anteriores, como a testagem contra a COVID-19, e pela experiência de vários anos das Farmácias na vacinação da população. Num cenário de hesitação vacinal, era fundamental derrubar barreiras de acesso para garantir que Portugal mantivesse uma cobertura vacinal adequada.

A Associação Nacional das Farmácias avaliou o impacto da inclusão da rede de Farmácias na Campanha de Vacinação de 2023/2024. Os dados revelaram que as Farmácias administraram 70% das vacinas na época sazonal, contribuindo para uma cobertura vacinal de 72,1% contra a gripe em pessoas com mais de 65 anos e de 60,8% contra a COVID-19. Embora esta última taxa seja inferior aos 75,8% de 2022/23, é ainda muito superior (cinco vezes!) à média europeia, que se cifrou em 12%. Esse desempenho foi possível porque, com a participação das Farmácias, os pontos de vacinação aumentaram 400%, reduzindo a distância média até os locais de vacinação para metade. Essa conveniência também resultou em menos deslocações de carro e maior disponibilidade de horários, tendo gerado um potencial de poupança de 2,4 milhões de euros para os utentes.

A inclusão das Farmácias no processo vacinal também trouxe benefícios diretos para o Serviço Nacional de Saúde (SNS). Uma vez que os Farmacêuticos Comunitários também participaram no esforço vacinal, os profissionais do SNS tiveram cerca de 310 000 horas de trabalho que puderam dedicar a outros atos nos cuidados de Saúde primários.

Os bons resultados e a elevada satisfação da população com esta iniciativa garantiram a sua continuidade para a campanha vacinal 2024/25. Este ano, já se vacinaram mais de 1 milhão e 800 mil pessoas. Estamos todos de parabéns por este esforço extraordinário.

Considero este esforço conjunto do Governo e todas as entidades do SNS com as Farmácias um exemplo de colaboração na implementação de políticas públicas de Saúde.

Além disso, essa experiência demonstra o potencial das Farmácias para disponibilizar outros serviços de Saúde. Seguindo as orientações da Organização Mundial da Saúde e da OCDE, que valorizam a capilaridade e a qualificação da rede farmacêutica, esta estratégia pode ser ampliada para beneficiar ainda mais a Saúde Pública.

Ema Paulino  

Presidente da Associação Nacional das Farmácias

ELA desmitificada: “Desvendando os seus aspetos fundamentais”

A Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA) é uma doença neurodegenerativa caracterizada pela destruição dos neurónios motores localizados no córtex motor, tronco cerebral e na medula espinhal, associado a um processo neuro-inflamatório cuja etiopatogenia é complexa e não está ainda totalmente compreendida, e que conduz à atrofia dos músculos esqueléticos. Funcionalmente, traduz-se numa fraqueza muscular progressiva, que afeta de todos os segmentos: motricidade grossa, fina, respiração, deglutição e fala, conduzindo à dependência total de terceiros. Em contexto clínico a sua apresentação é, por norma, extremamente rápida e multifacetada ao nível dos sintomas de apresentação e progressão, o que torna a ELA uma doença única e altamente complexa de tratar, carecendo do apoio de uma equipa multidisciplinar em contexto hospitalar, domiciliário e comunitário no seu percurso, tanto direcionado para o doente como para os seus familiares/cuidadores. 

Independentemente do seu início, a sua progressão é geralmente rápida e fatal, sendo a insuficiência respiratória a principal causa de morte, e que geralmente ocorre passados 3 a 5 anos do surgimento dos sintomas. A sua etiologia é igualmente variável, onde cerca de 90% dos casos são esporádicos, e os restantes apresentam uma história familiar positiva. Vários genes disfuncionais estão descritos associados à ELA (SOD1, C9orf72, 43-TARDP, FUS, etc.), sendo que o padrão na ELA familiar consiste, em norma, numa hereditariedade autossómica dominante de penetrância variável. 

Após o diagnóstico pelo médico Neurologista os doentes são então referenciados para o apoio multidisciplinar, numa equipa que contempla: neurologia, medicina física e reabilitação, pneumologia, cuidados paliativos, nutrição, psicologia, terapia da fala, fisioterapia motora e respiratória, serviço social, gastroenterologia, etc. 

A intervenção e acompanhamento não farmacológico são fundamentais, com destaque para o acesso às rotinas de reabilitação e gestão das necessidades de um modo antecipatório e adaptado ao estado e capacidade funcional por técnicos treinados para a doença, conjuntamente com respostas ao nível da formação/capacitação dos doentes e cuidadores, produtos de apoio, apoio ventilatório, ostomia de alimentação, ajudas pecuniárias, e cuidados formais (lista não exaustiva). 

O Riluzol, que atua ao nível da excitotoxicidade induzida pelo glutamato, é o único fármaco no nosso mercado, já há mais de 20 anos. Mais recentemente o Committee for Medicinal Products for Human Use (CHMP) emitiu um parecer positivo relativamente ao fármaco Tofersen, um oligonucleótido antisense que promove a degradação do mRNA envolvido na síntese da proteína superóxido dismutase (SOD1). Contudo este medicamento tem como alvo o grupo restrito de doentes com mutações patogénicas na molécula SOD1, mutação rara na população portuguesa.

Em Portugal, a ELA afeta cerca de 1000 a 1200 doentes. E a APELA – Associação Portuguesa de Esclerose Lateral Amiotrófica, é uma organização não governamental sem fins lucrativos, com 26 anos de história, que procura promover e divulgar a doença, advogar e lutar pela melhor representação e proteção dos interesses dos doentes e seus respetivos cuidadores, bem como o seu acompanhamento especializado. 

O desafio atual passa então pela consciencialização para as necessidades destes doentes e cuidadores, numa otimização de cuidados e respostas organizadas. Numa procura de respostas equitativas, rápidas e “uníssonas”, sejam em Saúde, sejam do ponto de vista social/pecuniário, seja no melhoramento do acesso e na capacitação dos pacientes para uma maior autonomia e participação. Fornecemos também apoio na gestão dos sintomas até à fase final de vida, promovendo um percurso de vida digno.

Dr. Filipe Gonçalves

Diretor Técnico e Fisioterapeuta na APELA – Associação Portuguesa de Esclerose Lateral Amiotrófica

A Residência Farmacêutica: Um importante recurso ao dispor do Farmacêutico

Os farmacêuticos desempenham um papel vital na promoção da Saúde. Ao escolherem a Residência Farmacêutica (RF) estão a investir nas suas carreiras e na Saúde Pública, comprometendo-se com o seu crescimento pessoal e profissional, e abrindo portas para um futuro repleto de oportunidades. 

A RF prepara os residentes para uma carreira especial, autónoma, diferenciada e estruturada, de acordo com as necessidades dos serviços de Saúde e dos utentes. Promete desafios que impulsionarão crescimento e aprendizagem constantes. Enfrentar situações complexas e colaborar com equipas multidisciplinares irá desenvolver resiliência, capacidade de adaptação e relações interpessoais, características fundamentais para uma carreira de sucesso. 

O programa da RF proporciona uma experiência prática, que vai muito além dos conhecimentos adquiridos nas universidades e que permite obter capacidades clínicas e técnicas, que só podem ser adquiridas num ambiente real. A RF permite uma aprendizagem profunda e contínua com mentores experientes e a possibilidade de participar em projetos de investigação inovadores. Também possibilita a criação de redes de contactos, relações profissionais valiosas e novas oportunidades de carreira. 

O ano de 2023 constituiu um marco determinante para a profissão farmacêutica pois os primeiros residentes iniciaram um programa formativo que lhes abre perspetivas para o ingresso no quadro farmacêutico do Serviço Nacional de Saúde (SNS) e que conduz à sua especialização. Neste processo, a Ordem dos Farmacêuticos (OF) apoia os residentes na valorização das suas capacidades e competências.

O decreto-lei nº 6/2020 de 24 de fevereiro definiu o regime jurídico da RF para a obtenção de um título de especialidade numa das diferentes áreas: Análises Clínicas (AC), Genética Humana (GH) e Farmácia Hospitalar (FH). Estas áreas devem estar capacitadas para abraçar desafios futuros, gerando profissionais qualificados e com uma intervenção orientada para a obtenção de resultados em Saúde e para a sustentabilidade dos serviços de Saúde, nomeadamente o SNS.  

A promoção das áreas em que o farmacêutico se pode diferenciar nas AC e na GH, por apresentar uma mais-valia em relação aos profissionais com outras qualificações e que partilham com ele o mesmo espaço laboratorial, é considerada estratégica pela OF.

A formação académica que é disponibilizada ao farmacêutico confere ao analista clínico uma vantagem competitiva para o desenvolvimento de áreas emergentes das quais são exemplos: 

  • Biologia molecular;
  • Genómica e proteómica;
  • Farmacogenómica; 
  • Medicina personalizada; 
  • Medicina preditiva e de precisão; 
  • Técnicas para identificar e monitorizar biomarcadores associados a tratamentos com fármacos inovadores ou medicamentos biológicos.

Estas áreas emergentes podem contribuir para a diferenciação laboratorial e os farmacêuticos devem investir nelas para ocupar lugares de destaque em toda a inovação que está a acontecer. 

Nas próximas décadas, os farmacêuticos especialistas em AC e em GH vão continuar a ter um papel nuclear no setor, onde a aposta na formação e na capacitação será preponderante. A RF assegura também a excelência na prática farmacêutica hospitalar, beneficiando diretamente a qualidade assistencial. Torna-se urgente apostar no rejuvenescimento destas áreas, com o propósito final de desenvolver um setor imprescindível nos cuidados de Saúde e no SNS.

 

Prof. Doutora Maria Leonor Correia

Contribution of Pharmacoeconomics to Enhancing the Pharmaceutical Industry Development

The culture of evidence-based healthcare, quality-linked incentives, and patient-centered actions, driven by the natural financial constraints on health systems budgets, led to a growing interest by decision and policymakers in expanding Health Technology Assessment (HTA) criteria to Pricing and Reimbursement (P&R) of a given technology (e.g., drug, vaccine, procedure, service), especially in disease areas with high unmet need or significant health and economic impact. Thus, in the past years, most administration and regulatory bodies around the globe improved their technologies’ approval procedures to be grounded on scientifically sound, cost-effective evidence aiming at maximizing value for patients, healthcare payers and society in light of increasingly limited healthcare resources. 

Pharmacoeconomics, broadly defined as the branch of health economics that measures the costs and outcomes (risk/benefits) associated with the use of health technologies is one of the central pieces of the P&R process that relies on the findings of different types of analyses (such as cost-of-illness, budget impact and cost-effectiveness analysis) for the decision-making. Yet, for this process to occur, the involvement of relevant stakeholders, such as the pharmaceutical industry, is strongly advised as it can strengthen the legitimacy of HTA as well as increase transparency, acceptance, and use of health products. Although Pharmacoeconomics may be time consuming, expensive, and a complex process (considering the need of several resources), it is indispensable for pharmaceutical industries to communicate the value of their products to external decision-makers (i.e., payers, prescribers) as well as to anticipate and achieve regulatory and reimbursement approvals. 

Moreover, technologies that undergo economic evaluations are perceived to have an ‘added value’, which may contribute towards their commercial success (marketing and promotion strategies). Additionally, considering that the research and development (R&D) of new technologies is long and costly, the use of Pharmacoeconomics in early development phases may provide useful and internal (for the company) inputs into the design of clinical development programmes, portfolio management and optimal pricing strategies which are likely to increase the efficiency of R&D resources use. Yet, most pharmaceutical industries outsource these activities to contracted companies or partners (e.g., private associates, consultant services, universities) that are specialized in performing economic evaluations. 

Although simpler models, usually in more advanced phase of products’ life cycle (III or IV), can be performed in-house (considering that executives in departments handling price and reimbursement are often familiar with or have an educational background of HTA methods), most industries prefer to hire external services aiming at having more impartial and valid analysis. Nonetheless, given the above-mentioned contributions of Pharmacoeconomics to the pharmaceutical industry, the investment in specialized in-house health economics and outcomes research (HEOR) departments alongside with increased awareness and support for HTA capacity building are paramount to further advance both the company and the Healthcare field.

 

Fernanda Stumpf Tonin, PhD/Professor

Get to Know the Alumni – Carolina Nunes

“O meu nome é Carolina Nunes, tenho 24 anos e no ano de 2017 entrei na Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa, a minha primeira opção de escolha, fascinada pelo organismo humano e com uma grande preferência pela área da Saúde. Rapidamente percebi que o Mestrado Integrado em Ciências Farmacêuticas não seria constituído apenas pelo que mais me interessava, muito menos apenas pelo que eu tinha mais aptidões para desenvolver, mas também que lhe faltava uma grande componente: as tão frequentemente chamadas “soft skills”, o ensino prático, a preparação para o mercado de trabalho e verdadeira alavanca para o futuro que nos espera. 

 

Foi com este reconhecimento das lacunas do MICF que surgiu a minha candidatura à LisbonPH e, em março de 2019, tornei-me Gestora de Projeto. Tive a oportunidade de gerir vários projetos e, assim, desenvolver as minhas capacidades de gestão de tempo, priorização e, acima de tudo, gestão de equipa e contacto interpessoal com personalidades distintas. Em março de 2020 tornei-me Diretora do Departamento de Projetos e o desafio aumentou: fomentou a minha liderança, adaptação a situações inesperadas e muita flexibilidade, para além de pôr à prova a minha gestão de esforço e pensamento estratégico. Tive ainda a grande oportunidade de fazer parte de um projeto internacional, com a organização de um evento europeu em Bruxelas com uma equipa de variadas nacionalidades e culturas, que enriqueceu sem medida o meu percurso. É com grande certeza que afirmo que a minha experiência na LisbonPH complementou da melhor forma o conhecimento científico que obtive com o MICF, acrescentando-lhe valor a nível pessoal e profissional.

 

Em 2022 terminei o curso e tornei-me Farmacêutica Comunitária. Neste primeiro ano de percurso profissional, esta função permitiu-me ter contacto direto com o doente, com as suas necessidades e dificuldades, e tive o privilégio de poder fazer a diferença de forma direta na vida de quem procura a ajuda do farmacêutico. Ainda que se trate de uma posição de desgaste físico e psicológico, retirei experiências valiosas a nível pessoal e profissional, trabalhei a minha postura de resiliência e aprendizagem constante, para além de fomentar o meu conhecimento científico.

 

Em setembro de 2023 tive o privilégio de me tornar Trainee na Johnson & Johnson Innovative Medicine Portugal, nas áreas de Farmacovigilância e Qualidade, onde o desafio da gestão de tempo e esforço continua presente, aliado a uma experiência sem paralelo de aprendizagem e evolução permanente, e um grande entusiasmo com tudo o que ainda está para vir.

 

A candidatura à LisbonPH nunca foi para mim uma dúvida, muito menos esteve em questão a minha vontade de poder fazer mais e melhor ao aproveitar todas as oportunidades que estar na LisbonPH me poderia dar. Foi dessa forma que encarei essa grande viagem e são estas mesmas experiências e motivações que continuo a levar no meu percurso, onde a LisbonPH, inevitavelmente, está sempre presente.”

A qualidade do sono e o consumo de fármacos hipnóticos em Portugal

O sono ocupa um terço das nossas vidas, desempenhando um papel fundamental na recuperação de energias para o dia seguinte. Nesse âmbito, é essencial para o desenvolvimento cognitivo, bem como para a consolidação da memória, o equilíbrio metabólico e a regulação imunológica e cardiovascular.

 

A privação crónica do sono ou outros distúrbios de sono têm, por isso, associados riscos de obesidade, riscos acrescidos de infeções e impacto cardiovascular grave, com aparecimento de patologia cardíaca, hipertensão arterial, diabetes mellitus e patologia cerebrovascular.

 

A nossa sociedade inquieta não respeita o sono. Dormimos pouco e mal. O nosso dia sobrecarregado aos níveis profissional, familiar e social, pensa no sono como um adversário para a produtividade e diversão. Como tal, a má higiene do sono é cada vez mais marcante na nossa sociedade, com rotinas de sono (horários de deitar/acordar) irregulares, uso de dispositivos eletrónicos e consumo de álcool e café ao deitar.

 

A insónia é o distúrbio de sono mais frequente – aproximadamente 50% da população já teve um episódio de insónia aguda em alguma fase da sua vida, normalmente secundária a algum fator de instabilidade emocional e ansiedade. A insónia crónica caracteriza-se por má qualidade do sono no contexto de dificuldade em iniciar o sono, despertar a meio da noite ou por despertar mais cedo de manhã que o desejado, e que ocorre durante, pelo menos, três meses. A prevalência nestes casos é de cerca de 25%.

 

A má qualidade do sono afeta negativamente o dia do doente, com sensação de sono não reparador, dificuldade em concentração, falta de energia, distúrbios do humor (irritabilidade, agressividade), diminuição de rendimento escolar e laboral, com impacto no absentismo. A insónia pode estar presente em até 40% dos doentes com depressão e ansiedade.

 

O sono não deve ser tomado como garantido. Para o cuidar temos de ter bons hábitos e boa higiene do sono. A qualidade de sono dos portugueses é má. A mudança de hábitos é difícil de concretizar por relutância para o fazer, procurando soluções mais rápidas, como uso de hipnóticos, que como sabemos apresentam consumos elevados no nosso país.

É importante também o reconhecimento e o diagnóstico atempado da insónia e perceber que, nestes casos, o tratamento é mais que o uso de hipnóticos (benzodiazepinas ou zolpidem) e que a terapia cognitiva-comportamental é reconhecidamente mais efetiva para o tratamento destes doentes.

O Futuro das Técnicas de Procriação Medicamente Assistida

A infertilidade é uma preocupação crescente em todo o mundo e a Organização Mundial de Saúde (OMS) tem alertado para o aumento significativo da incidência desta patologia.

Estatísticas recentes sugerem que cerca de 15% da população mundial é infértil. 

Embora a atenção dada às mulheres seja justificada, dado o seu papel crucial na gravidez, o estudo da Saúde Reprodutiva dos homens é muitas vezes negligenciado. No entanto, é importante salientar que 50% dos casos de infertilidade envolvem o fator masculino. É ainda crucial desmistificar a ideia de que a infertilidade é um problema que afeta principalmente as mulheres. Quando falamos sobre a infertilidade masculina, é importante lembrar que cada espermatozoide transporta informações genéticas e epigenéticas únicas que podem ter um impacto significativo na saúde das gerações futuras. 

Estudos recentes da nossa equipa mostraram que a dieta durante a infância pode afetar a qualidade espermática na idade adulta. Da mesma forma, o estilo de vida, incluindo a dieta, pode ter um impacto na qualidade do esperma e na informação transmitida à descendência. Diversos estudos, incluindo da nossa equipa, têm demonstrado que uma dieta rica em gordura pode alterar a informação epigenética no espermatozoide e afetar negativamente a saúde metabólica dos filhos. Para enfrentar esses desafios é fundamental melhorar os meios de preparação de gâmetas para as técnicas de Procriação Medicamente Assistida (PMA) e identificar informações epigenéticas prejudiciais que possam ser transmitidas para a descendência e impactar a sua saúde. 

A criopreservação de gâmetas é também um tópico que merece destaque como medida preventiva à diminuição da qualidade com a idade, exposição a compostos químicos e tratamentos médicos, entre outros. Além disso, é fundamental promover uma maior conscientização sobre a infertilidade masculina e incentivar a realização de exames preventivos, a fim de detetar possíveis problemas de fertilidade precocemente. Infelizmente, muitos homens ainda se sentem desconfortáveis em discutir questões relacionadas à fertilidade, o que pode levar a um diagnóstico tardio e a uma abordagem inadequada do problema. Portanto, é necessário um maior investimento na investigação e conscientização sobre a infertilidade masculina para promover o bem-estar das gerações futuras. 

A investigação deve se concentrar em maneiras de melhorar a qualidade do esperma e identificar os fatores que afetam negativamente a fertilidade masculina, bem como nos fatores prejudiciais para a saúde da descendência que podem ser transmitidos pelo espermatozoide. Além disso, deve haver um esforço contínuo para educar os homens sobre a importância de conhecerem a sua fertilidade. 

Em resumo, a infertilidade masculina é um problema que não tem tido a atenção que merece. Com a conscientização adequada, um maior investimento na investigação e uma abordagem preventiva, podemos garantir que os casais tenham filhos saudáveis e felizes.

  • Doutor Marco Alves

Investigador no Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS)