A importância do Farmacêutico no acompanhamento da pessoa com doença
Em Portugal, a esperança média de vida aos 65 anos é de mais 19,7 anos. Inevitavelmente, esta longevidade leva a um aumento da prevalência de doenças crónicas, nomeadamente, doenças cardiovasculares, doenças respiratórias e diabetes. Em 2018, segundo a OMS, as doenças crónicas foram responsáveis por 86% de todas as mortes, tornando o peso destas doenças inquestionável.
Paralelamente e, como consequência do aumento das doenças crónicas, surge a problemática da polimedicação e as consequentes falhas da farmacoterapia, que comprometem a sua efetividade e segurança. A fraca adesão à terapêutica, os erros de administração e as interações medicamentosas encontram-se entre as principais causas destas falhas. Sabe-se que 70% a 80% da morbimortalidade relacionada com a medicação seria evitável e que, dos episódios de urgência provocados por falhas da farmacoterapia, também 70% a 80% deles poderiam ser evitados se fosse feito o adequado acompanhamento das pessoas com doença.
Neste contexto, é evidente a necessidade de acompanhar melhor, e de mais perto, a pessoa com doença crónica, no sentido de otimizar o controlo da patologia e minimizar as complicações associadas. É preciso tirar partido da multidisciplinaridade e trabalhar em equipa, entre os vários Profissionais de Saúde.
O farmacêutico, nomeadamente o comunitário, é o profissional de saúde que se encontra melhor posicionado para acompanhar a pessoa com doença crónica. A sua sólida formação técnico-científica na área do medicamento e da patologia, a sua proximidade e acessibilidade à população e, ainda, o facto de muitas vezes, ser o único Profissional de Saúde que conhece todas as prescrições do doente (de entre os vários prescritores), assim o determina.
É importante também sublinhar que o Ato Farmacêutico integra, entre outros, a atividade de “Acompanhamento, vigilância e controlo da distribuição, dispensa e utilização de medicamentos de uso humano (…)”. Assim, para que o farmacêutico possa exercer a sua atividade de acompanhamento da doença crónica, é fundamental que este foque toda a sua intervenção na pessoa com doença, desenvolvendo serviços clínicos que permitam responder às necessidades de acompanhamento identificadas.
O Acompanhamento Farmacoterapêutico (AF) é o serviço que, por excelência, permite acompanhar a pessoa com doença crónica e ao qual estão associados os melhores resultados em saúde. Tal justificar-se-á pela monitorização da efetividade e segurança da terapêutica, integrada numa abordagem holística da pessoa com doença. Definido como a “prática profissional farmacêutica centrada na pessoa do doente, desenvolvida com o objetivo de contribuir para a melhoria do seu estado de saúde e qualidade de vida”, este serviço permite uma abordagem global das necessidades de saúde do doente.
Este serviço estrutura-se sob a forma de consultas, nas quais o farmacêutico recolhe e avalia de forma pormenorizada a história clínica da pessoa, os seus antecedentes de doença, a história farmacoterapêutica e os estilos de vida, bem como os meios complementares de diagnóstico e terapêuticas disponíveis. Toda a informação recolhida é estudada, integrada e interpretada no contexto clínico para que seja delineado o plano terapêutico específico conducente ao alcance dos objetivos terapêuticos definidos. Este plano terapêutico engloba intervenções farmacológicas e não farmacológicas, podendo requerer a referenciação do médico nas situações em que se justifique.
Assim, na minha opinião, em especial no contexto social e profissional em que vivemos, o farmacêutico deve colocar, definitivamente, o seu saber ao serviço da melhoria do estado de saúde da população. É urgente fazê-lo, pois se assim não for, outros o farão.
Doutora Mónica Condinho, Farmacêutica Comunitária na AcF