A qualidade do sono e o consumo de fármacos hipnóticos em Portugal

O sono ocupa um terço das nossas vidas, desempenhando um papel fundamental na recuperação de energias para o dia seguinte. Nesse âmbito, é essencial para o desenvolvimento cognitivo, bem como para a consolidação da memória, o equilíbrio metabólico e a regulação imunológica e cardiovascular.

 

A privação crónica do sono ou outros distúrbios de sono têm, por isso, associados riscos de obesidade, riscos acrescidos de infeções e impacto cardiovascular grave, com aparecimento de patologia cardíaca, hipertensão arterial, diabetes mellitus e patologia cerebrovascular.

 

A nossa sociedade inquieta não respeita o sono. Dormimos pouco e mal. O nosso dia sobrecarregado aos níveis profissional, familiar e social, pensa no sono como um adversário para a produtividade e diversão. Como tal, a má higiene do sono é cada vez mais marcante na nossa sociedade, com rotinas de sono (horários de deitar/acordar) irregulares, uso de dispositivos eletrónicos e consumo de álcool e café ao deitar.

 

A insónia é o distúrbio de sono mais frequente – aproximadamente 50% da população já teve um episódio de insónia aguda em alguma fase da sua vida, normalmente secundária a algum fator de instabilidade emocional e ansiedade. A insónia crónica caracteriza-se por má qualidade do sono no contexto de dificuldade em iniciar o sono, despertar a meio da noite ou por despertar mais cedo de manhã que o desejado, e que ocorre durante, pelo menos, três meses. A prevalência nestes casos é de cerca de 25%.

 

A má qualidade do sono afeta negativamente o dia do doente, com sensação de sono não reparador, dificuldade em concentração, falta de energia, distúrbios do humor (irritabilidade, agressividade), diminuição de rendimento escolar e laboral, com impacto no absentismo. A insónia pode estar presente em até 40% dos doentes com depressão e ansiedade.

 

O sono não deve ser tomado como garantido. Para o cuidar temos de ter bons hábitos e boa higiene do sono. A qualidade de sono dos portugueses é má. A mudança de hábitos é difícil de concretizar por relutância para o fazer, procurando soluções mais rápidas, como uso de hipnóticos, que como sabemos apresentam consumos elevados no nosso país.

É importante também o reconhecimento e o diagnóstico atempado da insónia e perceber que, nestes casos, o tratamento é mais que o uso de hipnóticos (benzodiazepinas ou zolpidem) e que a terapia cognitiva-comportamental é reconhecidamente mais efetiva para o tratamento destes doentes.