“BURNOUT” – Uma nova forma de ver, viver e gerir as “doenças”…

O tema desta reflexão é o “burnout”, que foi recentemente anunciado como uma nova doença pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e, mais recentemente ainda, anunciado como uma síndrome (que não é uma doença), pela mesma organização.

Um estudo publicado em 2017, encomendado pela Ordem dos Médicos a uma equipa de investigadores da Universidade de Lisboa, reportou resultados alarmantes: 66% dos médicos que participaram no estudo manifestam um nível elevado de “exaustão emocional”. Este estudo da era pré-COVID-19 (como seriam os resultados hoje?) foi amplamente discutido na comunicação social. A “exaustão emocional” é uma das principais dimensões da síndrome de burnout.

O título do estudo era o “Burnout na Classe Médica em Portugal”. O debate que provocou na comunicação social deu um importante contributo para familiarizar a opinião pública com este anglicismo, já amplamente adotado na língua portuguesa corrente. A palavra “burnout” é hoje utilizada por todos para designar alguém que está deprimido ou, mais popularmente, que está “esgotado” ou, mais genericamente, que apresenta comportamentos estranhos. Diz-se que essa pessoa está em burnout

A Classificação Internacional das Doenças, na sua versão mais recente (CID-11, 2019), classifica o “burnout” como uma síndrome que resulta de stress profissional crónico que não foi bem gerido. É caracterizado por três dimensões:

  1. Sentimentos de falta de energia ou de exaustão emocional;
  2. Desinvestimento mental e emocional na esfera profissional e sentimentos negativos ou cinismo relacionados com o trabalho;
  3. Diminuição da realização profissional.

As dúvidas relativamente ao burnout ser classificado como uma doença convivem com a certeza de que o burnout é uma das principais causas de depressão, a doença que se destaca como primeira causa de incapacidade na Europa. O burnout é a causa de muitos outros problemas de Saúde, de redução do rendimento profissional, e de insatisfação com o trabalho e a vida.

Como se previne e como se trata esta “síndrome”, que não é doença, mas é causa de doenças e de incapacidade? Considerando a definição já apresentada, prevenir e tratar o burnout consiste em “gerir” melhor o stress profissional crónico.

A OMS não exclui os médicos e o sistema de Saúde do tratamento (da gestão) do burnout. Mas fica também claro a partir da sua definição que gerir o burnout de modo a prevenir e a tratar esta “condição” não depende só dos médicos – nem os médicos têm o papel principal nesta tarefa. Gerir o burnout é uma tarefa de todos. 

“Gerir”, no caso do burnout, aplica-se a cada um de nós que deve empenhar-se ativamente na gestão da sua vida profissional. “Gerir” aplica-se às organizações onde trabalhamos e aos seus dirigentes, que devem ser formados para gerir melhor o trabalho e as pessoas. “Gerir” é também uma tarefa dos influenciadores e ativistas sociais, que devem disseminar esta nova conceção de Saúde e de doença. Por fim, esta tarefa é dos políticos, que devem governar considerando estas mudanças na Saúde e nas doenças que pedem novas políticas de Saúde e de organização do trabalho.

 

Paulo Vitória

Psicólogo,

Professor na Universidade da Beira Interior

 

Conceição Nobre

Psicóloga, 

Diretora clínica da Ph+ Desenvolvimento de Potencial Humano.