Influência dos Nanoplásticos na Saúde
“Nanoplástico” é um termo genérico atribuído a partículas de diâmetro menor que 100 nanómetros e que, quimicamente, são maioritariamente compostas por um polímero dito plástico como poliestireno (PS), polietileno (PE), polipropileno (PP), entre vários outros.
Do ponto de vista toxicológico, ainda há muito a desvendar acerca dos seus efeitos. A investigação desenvolvida à data, incluindo no laboratório de Toxicologia da FFUL, tem apontado no sentido dos nanoplásticos poderem penetrar células e tecidos, ativando vias de sinalização associadas a uma resposta pró-inflamatória, nomeadamente o eixo TLR4/NF-kB e MPAK p38 [1]. De assinalar, contudo, que muita da investigação laboratorial publicada tem utilizado como modelo partículas comerciais de PS e que nanoplásticos de outros polímeros poderão ter outro tipo de efeitos.
Para além disso, há que ter em conta que no ambiente as nanopartículas de plástico, em resultado da sua elevada razão área de superfície/volume, interagem fortemente com outros contaminantes, adsorvendo-os na sua superfície, o que pode alterar a sua biodisponibilidade e propriedades toxicológicas [2]. Uma outra camada de complexidade no estudo da toxicologia dos nanoplásticos relaciona-se com o facto de, para além da composição polimérica referida acima, os plásticos terem na sua constituição vários aditivos que têm propriedades toxicológicas distintas. Um exemplo é o bisfenol A (BPA), um conhecido disruptor endócrino [3]. Importa, por isso, perceber também de que forma é que a libertação destes aditivos dos nanoplásticos pode impactar a Saúde humana.
Para além desta caracterização dos perigos toxicológicos inerentes aos nanoplásticos, é fundamental saber-se o nível de exposição da população humana para estimarmos o Índice Risco. Embora se tenham feito alguns progressos do ponto de vista analítico recorrendo a metodologias avançadas como espectroscopia Raman [4] ou Pirólise-GC-ToF-MS [5], a comunidade científica ainda não dispõe de métodos validados que permitam avaliar rotineiramente quais os níveis de nanoplásticos – dos mais variados tamanhos e composição química – em diferentes matrizes como águas de consumo e alimentos.
Este é, na minha opinião, o maior desafio que na atualidade se coloca à investigação sobre nanoplásticos e aquele que determinará a direção de investigação futura, nomeadamente no que respeita à Avaliação do Risco toxicológico destes materiais.
Prof. Doutor Vasco Branco
Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa