Noções sobre o Lúpus Eritematoso Sistémico

      O Lúpus Eritematoso Sistémico [LES] é uma doença autoimune do tecido conectivo que pode afectar múltiplos órgãos ou sistemas, em particular: pele, articulações, superfícies serosas, coração, pulmões, rim e sistema nervoso central.

      A causa do LES é desconhecida. Na realidade, há uma perturbação da autoimunidade com a produção de um grande número de anticorpos. Estes anticorpos reagem com antigénios [nucleares, citoplasmáticos das células, linfócitos e plaquetas] formando imunocomplexos (antigénio + anticorpo) que se depositam na pele, rim, sistema nervoso central, membranas serosas e membranas sinoviais. Os próprios anticorpos podem reagir diretamente com os órgãos ou tecidos descritos anteriormente.

      Existem factores ambientais, endocrinológicos, genéticos e metabólicos que por si só ou em conjunto podem desencadear ou perpetuar a doença. Nos gémeos idênticos, se um tem Lúpus sistémico, o outro terá 70% de probabilidades de vir a ter; por outro lado os parentes de doentes com a doença têm anomalias imunológicas e existem casos familiares.

      Quanto aos fatores hormonais, sabemos que a doença atinge preferencialmente a mulher durante o seu período fértil. A doença melhora durante a gravidez e pode exacerbar-se após o parto. Os fatores ambientais são atestados pelo agravamento que surge muitas vezes com a exposição à luz ultravioleta e sol; a infeção agrava o quadro clínico e sabemos que há fármacos responsabilizados pelo desencadear da doença e outros que geram um quadro semelhante ao Lúpus, embora benigno e que cessa com a interrupção do medicamento. Outros fármacos podem agravar um Lúpus já existente como a penicilina, sulfamidas e contraceptivos orais.

      Os principais sintomas iniciais, acompanhados ou não de sinais gerais, costumam ser lesões da pele e articulares. Posteriormente, podem surgir outros sintomas como pericardite. No decurso da doença surgem outros: Pleurisias, pericardite, convulsões, manifestações psiquiátricas, doença renal, etc. No exame laboratorial pode detetar numerosos anticorpos com especial relevo para os antinucleares e anticorpos anti ADN, assim como alterações no doseamento do complemento.

      Estes doentes devem ser seguidos por um médico que que tenha experiência no diagnóstico e tratamento da doença e tanto pode ser um dermatologista, como um reumatologista ou especialista de medicina interna. O tratamento envolve o suporte emocional, os cuidados contra a exposição solar [roupa protetora do sol: mangas compridas e chapéus de aba larga], protetores solares que bloqueiem os UVA e UVB e o repouso. Para além destas medidas gerais, o tratamento inclui: analgésicos, anti-inflamatórios, corticoesteróides, anti maláricos e imunossupressores.

      O tratamento é determinado, em grande parte, mais pelas manifestações individuais da doença do que pelo diagnóstico primário. A intensidade da terapêutica deve basear-se na gravidade da doença e deve ser administrada por um período de tempo mais curto, com doses mais baixas possíveis, de forma a evitar a toxicidade.

      Estes doentes têm diferentes manifestações clínicas e a gravidade vai desde a doença episódica ligeira à doença rápida e muito grave. As exacerbações manifestam-se por actividade clínica e serológica. Quanto mais precoce for o diagnóstico, maior será o índice de sobrevivência.

-Luís Afonso Dutschmann, Presidente da Associação de Doentes com Lúpus
Maio de 2017