A Importância da Reabilitação Motora nas Doenças Neurodegenerativas – Esclerose Múltipla

A prevalência média europeia de Esclerose Múltipla (EM) é de 83/100.000, sendo mais elevada em países do Norte da Europa (nas últimas três décadas) com maior incidência no sexo feminino (relação de 2:1) em que a prevalência é mais elevada no grupo etário dos 35-64 anos (Pugliatti et al. 2006). Um ou mais dos sintomas produzidos pelo dano na bainha de mielina em diferentes áreas do Sistema Nervoso Central (SNC) podem provocar alterações que afetam a qualidade de vida da pessoa com EM. Quando a bainha de mielina se encontra íntegra, há condução do impulso elétrico sem alterações. Na presença de lesão na bainha de mielina, em áreas específicas do cérebro e/ou medula espinal, há comprometimento das funções que estes desempenham.

Pode a reabilitação motora contribuir para uma melhoria dos sintomas da pessoa com Esclerose Múltipla?

A fisioterapia é uma intervenção que se baseia na individualidade de cada pessoa com Esclerose Múltipla, em que o movimento preconizado procura melhorar as queixas e, em muitos casos, estabilizar ou diminuir a incidência da progressão da doença.

Dos múltiplos sintomas que se podem manifestar, vou incidir sobre a fadiga e o equilíbrio como sintomas dos que procuramos minimizar o impacto. O treino cardiorrespiratório tem bastante importância na reabilitação motora, pois tem como objetivo a redução da fadiga – quanto maior for a capacidade ventilatória do aparelho respiratório, maior será o aporte de oxigénio às células. Quando a fadiga está presente, existe uma falta de força muscular que impossibilita a atividade. Respirar de forma mais eficiente beneficia a função cardiovascular e neuromuscular, que por sua vez também reduz a fadiga.

Estas melhorias respiratórias beneficiarão a fala, em que há mais emissão de ar nas cordas vocais, assim como na deglutição, melhorando a mobilidade destes músculos.

Vários parâmetros do sistema cardiovascular e função respiratória, como a capacidade aeróbica e o consumo máximo de oxigénio (VO2max), mostraram reduções até 30% em pessoas com Esclerose Múltipla, em comparação com indivíduos saudáveis (Mostert 2002). Aumentar a mobilidade e a marcha e, se necessário, introduzir um auxiliar de marcha, pode compensar a fraqueza muscular, aliviar a dor, melhorar a postura, corrigir padrões anormais de marcha e permitir que as pessoas caminhem mais longe e com mais segurança. Além disso, o uso de auxiliares de marcha pode restaurar a confiança, muitas vezes sinalizando a terceiros que a pessoa tem uma marcha instável. Os défices de equilíbrio são comuns e aumentam a probabilidade de queda (Peterson 2008). O treino de resistência também parece influenciar positivamente a fadiga, o humor e a qualidade de vida da pessoa com Esclerose Múltipla (Dalgas 2010).

Finalmente, a evidência sugere que o treino de resistência pode ter uma função neuroprotetora através do aumento das neurotrofinas 1, uma família de proteínas que induzem a sobrevivência, o desenvolvimento e a função dos neurónios (Castellano 2008; Gold 2003).

O tema é vasto e exige acompanhamento por Profissionais de Saúde. A reabilitação motora requer acompanhamento por fisioterapeutas e terapeutas ocupacionais, sem esquecer a terapia da fala, que incide em muitos outros aspetos, por vezes não tão evidentes a nível motor.

Sofia Baptista, fisioterapeuta num serviço de neurorreabilitação de Esclerose Múltipla.

Get to Know the Alumni – Maria Jourdan

O meu percurso na LisbonPH iniciou-se como membro do Departamento Comercial e Vendas em 2018. Acabei por me envolver desde cedo no Movimento Júnior Português onde, no início do ano 2019, fui recrutada para Project Manager de Public Affairs na JADE Portugal.

Em maio de 2019, fui eleita Diretora do Departamento Comercial e Vendas, função que exerci durante um ano. Em maio de 2020, fui eleita para a Direção da agora JE Portugal, enquanto International Manager, acumulando as competências externas (Relações Internacionais, Relações Institucionais e Parcerias). 

Terminei o MICF em 2021 e ingressei logo na GSK enquanto Marketing Trainee da Área Respiratória. No entanto, o meu objetivo sempre foi conseguir ingressar na Área de Acesso ao Mercado, onde atualmente me encontro na Gilead enquanto Market Access Trainee

Sobre este percurso, sei sem qualquer dúvida que a LisbonPH e o Movimento Júnior Nacional e Internacional foram imprescindíveis no meu crescimento tanto pessoal como profissional, foram o trampolim que permitiu este ingresso desde cedo na área que sempre ambicionei. Para mim reflete o que enquanto Júnior Empresários muito defendemos: “O Movimento Júnior Português é a principal plataforma complementar ao ensino teórico em Portugal”.

Os efeitos das novas formas de fumar

O cigarro convencional tem cerca de 7357 compostos químicos, dos quais 70 têm atividade carcinogénica confirmada. Destes destacam-se a nicotina, pelo seu efeito aditivo, e as N-nitrosaminas, o benzeno, as aminas aromáticas, a acroleína, o acetaldeído e os compostos poli-aromáticos, pelo seu comprovado efeito carcinogénico. O consumo de tabaco é um factor de risco para 6 das 8 principais causas de morte a nível mundial, como na doença cardíaca isquémica, doença cerebrovascular, DPOC, infeções respiratórias inferiores, tuberculose e cancro do pulmão, e é responsável por cerca de 700.000 mortes a nível europeu. Estes efeitos deletérios, habitualmente, desenvolvem-se duas décadas depois de se iniciar o consumo, pelo que, muitas vezes, menospreza-se o risco associado.

O cigarro electrónico, ou e-cigarro, foi patenteado em 2003, pelo farmacêutico chinês Hon Lik, com o objetivo de repor a nicotina, um dos compostos que causa adição e dependência. Atualmente, existem mais de 2.500 marcas no mercado, com vários formatos e constituintes. Estes incluem a nicotina, o propilenoglicol ou o glicerol diluído em água para produzir o aerossol, e, por vezes, substâncias que modificam o sabor, como extrato de frutas, baunilha ou menta. No entanto, já foram detetadas nos cartuchos de nicotina outras substâncias potencialmente perigosas, como formaldeído, acetaldeído, acroleína, compostos orgânicos voláteis ou nitrosaminas. A segurança do e-cigarro não foi cientificamente demonstrada e o potencial risco para a saúde ainda não se encontra totalmente esclarecido, até porque muitos dos problemas de segurança estão relacionados com a inexistência de regulação adequada e de inconsistências no seu controlo de qualidade, com a consequente variabilidade na qualidade dos dispositivos, na quantidade de nicotina dispensada e nos outros constituintes dos diferentes cartuchos. O tecido respiratório exposto ao vaping desenvolve inflamação, tendo como consequência a curto e médio prazo a tosse, expectoração e falta de ar, e a longo prazo o desenvolvimento de doença pulmonar obstrutiva crónica (DPOC), infeções respiratórias, doenças cardiovasculares e cancro. Esta tem sido a forma de início de consumo de tabaco por um número crescente de jovens, que sentem que estes dispositivos terão uma fração mais reduzida dos riscos dos cigarros convencionais. Mas não se deixem enganar, o e-cigarro pode ser menos danoso para o organismo, mas não é completamente seguro, com potenciais danos para o coração e pulmões, causa tanta adição quanto o tabaco “normal” e não é a melhor ferramenta para se deixar de fumar.

No que concerne ao tabaco aquecido, a própria tabaqueira responsável pela sua comercialização assume que este não é um produto isento de risco, contém nicotina e outros produtos químicos, e está destinado apenas a fumadores adultos.

Se estiver preocupado com os efeitos que o consumo de tabaco pode ter na saúde, a melhor opção é mesmo deixar de usar completamente qualquer produto com tabaco e/ou nicotina.

António Araújo,

Diretor do Serviço de Oncologia Médica, Centro Hospitalar da Universidade do Porto.

Professor Catedrático Convidado do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar, Universidade do Porto.

Pode o Mindfulness impactar o bem-estar?

Todos nós desejamos sentir bem-estar e viver melhor, mas o nosso estilo ou condições de vida estão a causar danos, manifestando-se como fadiga, ansiedade, esgotamento ou até mesmo dor física. Este tempo histórico que estamos a viver com a pandemia tem agravado muitos destes sintomas. Muitos de nós sentem-se desconectados, presos a rotinas anteriores que deixaram de ter significado, e vivendo em constante preocupação ou medo. A boa notícia é que, com a prática, podemos melhorar o nosso bem-estar e atingir um estado de maior equilíbrio e satisfação.

Richard Davidson, neurocientista, investigador e fundador do Center for Investigating Healthy Minds ​​da Universidade de Wisconsin-Madison refere que a neurociência demonstra que os circuitos cerebrais que são importantes para o bem-estar exibem plasticidade, ou seja, mudam como consequência da experiência e como consequência do treino. Sabemos que o cérebro está constantemente a ser alterado, intencionalmente ou não, e isso significa que todos nós podemos assumir a responsabilidade pelos nossos próprios cérebros e moldá-los de maneiras mais positivas, melhorando o nosso bem-estar. Richard refere também que estar distraído tem um custo para o nosso bem-estar e se nos tornarmos mais conscientes das nossas experiências diárias, podemos melhorar o bem-estar e sentirmo-nos mais felizes.

O que é o Mindfulness?

A prática de Mindfulness pode ser entendida como a capacidade de prestar atenção de forma intencional às nossas experiências internas e externas, com uma atitude de curiosidade, amabilidade e não de julgamento. No ritmo acelerado em que vivemos é muito fácil entrarmos em piloto automático e perdermos o contacto com o momento presente, vivendo envolvidos nos nossos pensamentos ruminantes e ativações emocionais, mas desconectados do corpo e da nossa experiência. Isso afeta não só o nosso bem-estar, mas também a relação com os outros.

 Com a prática de Mindfulness aprendemos a observar os nossos pensamentos e emoções como eventos que ocorrem, sem aversão e sem apego e a conhecer melhor os nossos padrões mentais, emocionais e de comportamento. Essa visão “mais clara” do que ocorre permite-nos reconectar com a experiência e geri-la melhor. A prática de Mindfulness ajuda-nos a parar e a estar mais presentes e conscientes daquilo que existe e acontece.

O que nos diz a investigação?

Uma meta-análise (1) publicada na revista Nature Human Behavior, que examinou mais de 400 estudos efetuados com mais de 50.000 participantes, avaliou várias abordagens psicológicas e o seu impacto na melhoria do bem-estar. Os participantes foram colocados em três categorias: pessoas com boa saúde em geral, pessoas com doenças mentais e pessoas com doenças físicas. Os investigadores concluíram que, nesses três grupos, todos beneficiaram com a prática de Mindfulness.

De forma mais específica, nos últimos anos têm-se desenvolvido e publicado numerosos estudos sobre os benefícios da prática regular de Mindfulness quer no alívio de problemas de saúde física ou mental, como a dor crónica (2), ansiedade, stress (3) e depressão, (4) quer na melhoria do bem-estar geral (5), autocompaixão, empatia (6), alegria e contentamento (7).

Como funciona?

A prática de Mindfulness permite o treino de diferentes mecanismos relacionados com o bem-estar, nomeadamente:

–  A capacidade de foco no momento presente (facilita uma menor ruminação, a diminuição da ansiedade e do stress e permite emoções mais positivas, como a gratidão);

–  A capacidade de descentramento (a observação das emoções, dos pensamentos e das experiências sem autoidentificação, permitem a aceitação e a gestão das situações mais desafiantes, sem comportamentos de evasão e negação);

– A autocompaixão (incentiva estados positivos, como equanimidade, motivação e interconexão);

– A autorregulação emocional (permite reconhecer e quebrar padrões de comportamento e responder às situações com um impacto mais positivo);

– A empatia e compaixão (permite uma maior compreensão e conexão com o outro, evitando esgotamento e comportamentos antissociais).

Se quisermos trabalhar para melhorar o nosso bem-estar, sem dúvida que incorporar a prática de Mindfulness na nossa vida diária pode ser uma excelente decisão. A prática de Mindfulness não é exclusiva para momentos estruturados e dedicados como a meditação. O convite é que possamos também trazer essa qualidade de atenção, com curiosidade e sem julgamento, para a vivência do nosso dia a dia: enquanto caminhamos, tomamos uma refeição, brincamos com o nosso filho, conversamos com um amigo, trabalhamos num projeto, assistimos a uma reunião ou lemos um artigo.

Vanda de Sousa

Co-founder and Lead Mindfulness Instructor @ The School of We

(1)     Van Agteren J et al, (2021) A systematic review and meta-analysis of psychological interventions to improve mental wellbeing. Nat Hum Behav., doi:10.1038/s41562-021-01093-w

(2)     Kabat-Zinn, J. (1982). An outpatient program in behavioral medicine for chronic pain patients based on the practice of mindfulness meditation: Theoretical considerations and preliminary results. General Hospital Psychiatry, 4(1), 33-47

(3)     Bishop, S. R. et al (2004), Mindfulness : A Proposed Operational Definition. Clinical psychology: Science and practice, 11(3), 230–241.

(4)     Teasdale, J. D., et al (2000). Prevention of relapse/recurrence in major depression by mindfulness-based cognitive therapy. Journal of consulting and clinical psychology, 68(4), 615.

(5)     Brown, K. W., at al (2007), Mindfulness: Theoretical Foundations and Evidence for its Salutary Effects. Psychological Inquiry, 18(4), 211–237

(6)     Neff, K. (2003), Self-compassion: An alternative conceptualization of a healthy attitude toward oneself. Self and Identity, 2(2), 85-101(7)     Davidson, R. J. et al (2003), Alterations in brain and immune function produced by mindfulness meditation. Psychosomatic medicine, 65(4), 564-570.

Nutrição e Saúde Intestinal

O intestino, órgão mais extenso do trato gastrointestinal, é colonizado por diversos microrganismos: fungos, vírus e centenas de espécies bacterianas. Juntos, caracterizam a microbiota intestinal, que varia consoante a idade, género, índice de massa corporal e nacionalidade do hospedeiro.

Estima-se que o número de microrganismos existentes no intestino seja 10 vezes superior ao número de células totais do corpo e o número de genes 100 vezes superior ao do genoma humano.

Os microrganismos que residem no cólon favorecem a saúde do hospedeiro através da biossíntese de vitaminas e aminoácidos essenciais, bem como ácidos gordos de cadeia curta (AGCC) – butirato, propionato e acetato – produzidos a partir da fermentação de nutrientes não digeríveis obtidos na dieta. Estes atuam como fonte de energia para as células do epitélio intestinal, fortalecendo a barreira intestinal, com ação anti-inflamatória.

A composição da microbiota é estabelecida durante o parto e também no decorrer da alimentação dos primeiros meses de vida. O término da fase de lactação induz alterações na microbiota devido à supressão de imunoglobulina A, tais como o aumento das bactérias Firmicutes e Bacteroidetes. O sistema imunitário desenvolve uma relação mutualista e de homeostase com os microrganismos colonizadores do intestino. Contudo, alterações na dieta, higiene, estilo de vida ou o consumo de antibióticos podem induzir variações na sua constituição. Se o equilíbrio for perturbado, ocorre disbiose e a relação hospedeiro-microbioma modifica, podendo desencadear inflamação crónica e patologia.

O consumo adequado de proteína, com uma ingestão de proteína vegetal relativamente superior à de origem animal (característica da dieta mediterrânica), correlaciona-se positivamente com a diversidade microbiana. Porém, quando a ingestão de proteína animal é predominante, pode verificar-se um decréscimo da produção de AGCC devido ao crescimento das bactérias anaeróbias. A elevada ingestão de proteína animal também está associada ao consumo de gordura saturada (característica da dieta ocidental, adicionalmente pobre em fibra), que coadjuvam a microflora anaeróbia com impacto na microbiota. O consumo preeminente de ácidos gordos mono e polinsaturados (presentes no salmão, cavala, sementes, óleos vegetais) aparenta não alterar a sua constituição, contudo, está associado a melhores outcomes metabólicos e indicadores cardiovasculares.

Os hidratos de carbono digeríveis (amido e açúcares simples: frutose, glucose, lactose) sofrem hidrólise sob ação enzimática no intestino delgado. A influência da lactose na saúde intestinal ainda é um tema controverso. Existem estudos que demonstram os seus benefícios, porém também é referida como um agente irritante gastrointestinal. As fibras e os amidos resistentes revelam benefícios pela estimulação do crescimento de microrganismos produtores de AGCC. Destaca-se que o consumo de fibra produz alterações positivas nos marcadores anti e pró-inflamatórios e na insulinorresistência.

No que se refere aos probióticos (bactérias vivas que integram alimentos como o leite fermentado, iogurtes) e polifenóis (presentes nos hortofrutícolas, chá, derivados do cacau, vinho), parece que o seu consumo produz melhorias no rácio de bactérias benéficas/patogénicas. Os probióticos apresentam ainda uma ação no alívio dos sintomas gastrointestinais, potenciam a resposta imunitária humoral e inibem a adesão de microrganismos patogénicos ao intestino.

Já certos aditivos alimentares encontrados em alimentos processados demonstram aumentar o stress oxidativo, com alteração da barreira epitelial e inflamação da mucosa em modelos animais. Porém, a composição da microbiota, função imunológica, nutrição e metabolismo diferem entre modelos animais e humanos, não sendo resultados extrapoláveis. Os adoçantes artificiais, como a sacarina e aspartame, parecem provocar disbiose e mediar um efeito indutor de intolerância à glucose.

Em âmbito de consulta, o nutricionista tem a responsabilidade de incentivar padrões alimentares equilibrados e hábitos promotores de saúde, desenvolvendo dietoterapias direcionadas ao alívio de sintomas provocados pela disbiose ou patologia intestinal diagnosticada. As recomendações e dietoterapias aplicadas têm em consideração as necessidades nutricionais, diagnóstico nutricional, hábitos e preferências alimentares do utente, de forma individualizada e fundamentada na evidência científica mais atual.

Dra. Natacha Nascimento

A Enxaqueca – uma doença real, invisível e incapacitante

Não, uma enxaqueca não é apenas uma dor de cabeça!

A enxaqueca trata-se de uma doença neurológica extremamente incapacitante, que tem sido desvalorizada por se tratar de uma doença invisível e que poucos compreendem.

Em Portugal, afeta cerca de 1 em cada 7 pessoas. Provoca uma redução na qualidade de vida dos doentes e tem um enorme impacto a nível social, familiar e laboral.

Caracteriza-se por uma dor de cabeça latejante moderada a grave, normalmente apenas de um lado da cabeça. Muitos doentes descrevem esta dor como se o coração estivesse a bater dentro da cabeça. A enxaqueca, para além da dor, faz-se acompanhar de vários outros sintomas, como a sensibilidade à luz, a cheiros intensos, ao som e ao movimento. É também muito comum a existência de náuseas, vómitos e alterações gastrointestinais durante as crises. Tanto as características da dor como os sintomas associados variam de pessoa para pessoa. Existe também um conjunto de sintomas e de fatores que podem anteceder ou suceder uma crise de enxaqueca, sendo possível identificar 4 fases: 

A primeira fase designa-se de pródromo (ou fase premonitória) e consiste nos sintomas que antecedem a crise. Trata-se de uma espécie de “aviso”. Depressão, fadiga, alterações de apetite e de humor, rigidez no pescoço ou sonolência são alguns dos sintomas identificados.

A segunda fase trata-se da aura, em que vários sintomas neurológicos, como alterações de visão, dormência ou dificuldade de articular o discurso, são experienciados. No entanto, apenas 15% a 30% dos doentes com enxaqueca têm aura.

A terceira fase diz respeito à dor em si, a cefaleia, que se vai intensificando ao longo do tempo. E, por último, surge a fase posdrómica, desde que termina a dor até o doente se sentir novamente normal. Os sintomas são semelhantes aos da fase premonitória.

Não existe uma causa propriamente dita associada à enxaqueca. A doença poderá estar ligada a uma série de fatores genéticos, que explicam a hereditariedade, e ser desencadeada por vários fatores externos, também conhecidos como gatilhos, que podem ir de um simples alimento a alterações de luz, um odor forte ou situações de stress. Ter uma vida normal e de qualidade torna-se um desafio extremo para os doentes com enxaqueca.

 A incompreensão é muito comum no seio familiar, no trabalho e na sociedade em geral. Também a imprevisibilidade e o medo de que surja uma nova crise são uma constante na vida dos doentes, que faltam a eventos importantes, ao seu trabalho e vivem constantemente em part-time.

É importante que o doente recorra ao seu médico e efetue a terapêutica mais adequada para o seu caso. Existe o tratamento agudo, utilizado em situação de crise, e o tratamento preventivo, mais regular e contínuo, com o objetivo de prevenir o aparecimento de crises. Encontrar a terapêutica mais adequada é um desafio, sendo necessária muita persistência e tentativa-erro até se sentirem os resultados esperados. É assim fundamental reconhecer a doença e apoiar os doentes, contribuindo para a melhoria da sua qualidade de vida e valorização da sua condição.

Destas necessidades, surgiu a MiGRA Portugal – Associação Portuguesa de Doentes com Enxaqueca e Cefaleias, que presta diariamente apoio aos doentes, através das suas atividades, da sua comunidade e da informação disponibilizada. A educação, capacitação e representação dos doentes são a sua prioridade. Saiba mais em migraportugal.pt.

Bruna Santos, Secretária-Técnica da MiGRA Portugal – Associação Portuguesa de Doentes com Enxaqueca e Cefaleias.

Get to Know the Alumni – Bernardo Rodrigues

Olá a todos,

O meu nome é Bernardo Rodrigues e fiz parte da LisbonPH desde a sua fundação, em 2013, até ao ano de 2016. Enquanto cofundador, exerci inicialmente funções como Vendas e Relações Públicas, estando responsável pela promoção dos serviços e angariação de projetos aquando da génese da nossa Júnior Empresa, cargo ao qual se seguiu uma curta passagem enquanto Diretor de Marketing e Vendas e culminou com a eleição para Presidente Executivo, função desempenhada durante um ano e meio, entre 2014 e 2016.

Este período ficou marcado pela crescente relevância da LisbonPH nos setores da saúde e empreendedorismo, bem como pela sua afirmação como organização de excelência no Movimento Júnior:

  • Internamente, assistiu-se a um período de reorganização e criação de boas práticas que permitiram aumentar a qualidade dos serviços prestados, culminando com o reconhecimento da LisbonPH enquanto entidade formadora pela Ordem dos Farmacêuticos; 
  • Na área de recursos humanos, iniciaram-se os primeiros programas de estágio e de mentoring;
  • Externamente, foram criadas duas novas áreas de serviço – e-Learning e consulting & logistics, tal como angariados vários projetos e estabelecidas parcerias com entidades de renome do nosso setor de atuação. De destacar que, através de iniciativas conjuntas com discentes e docentes da FFULisboa, a LisbonPH contribuiu ativamente para o financiamento de formação académica e diversos projetos de investigação;
  • A nível do Movimento Júnior, a LisbonPH tornou-se em 2015, a primeira Júnior Empresa a atuar na área da saúde em Portugal, tendo sido considerada nesse mesmo ano a melhor Júnior Iniciativa do País e, no ano seguinte, a melhor Júnior Empresa em Portugal e a Mais Promissora a nível Europeu.

A nível pessoal, foi e continua a ser um grande orgulho ter pertencido a esta equipa durante três anos. Este foi um projeto que me apaixonou como nenhum outro anteriormente, permitindo-me trabalhar com quase cem pessoas diferentes, fazer grandes amigos para a vida e, profissionalmente, um desenvolvimento imensurável que continua a servir como base para a minha carreira na Indústria Farmacêutica.

Assim, há mais de sete anos que trabalho na área de Acesso ao Mercado, com o principal objetivo de garantir que os doentes têm acesso a medicamentos inovadores para as suas condições, de forma sustentável. Comecei por estagiar na Direção de Avaliação de Tecnologias de Saúde (DATS) do INFARMED, I.P. e, passado um ano, passei a integrar o departamento de Acesso ao Mercado da Janssen – Companhia Farmacêutica do grupo Johnson & Johnson – em Portugal, com funções de responsabilidade crescente, durante quatro anos. Atualmente, trabalho na unidade de Oncologia enquanto Health Economics, Market Access and Reimbursement Manager para a região EMEA – Europa, Médio Oriente e África, trabalhando no lançamento de um medicamento inovador para o tratamento de Cancro do Pulmão nestes países.

Os desafios do farmacêutico hospitalar na área da Oftalmologia

Nos últimos anos, a área da Oftalmologia tem conhecido grandes avanços, estando em constante evolução e possibilitando aplicações diagnósticas e terapêuticas cada vez mais precisas a uma população mais envelhecida.

O farmacêutico hospitalar deve integrar a equipa multidisciplinar, promovendo o uso racional do medicamento e outros produtos farmacêuticos e contribuindo para a utilização segura e eficaz, de forma a optimizar os resultados em saúde, conforme a legislação em vigor e normas regulamentares.

As doenças que afetam os olhos e a visão, muitas delas raras, apresentam um diagnóstico e tratamento difíceis. A especificidade desta área requer uma constante aprendizagem, nomeadamente sobre doenças como a degenerescência macular relacionada com a idade, retinopatia diabética, glaucoma, endoftalmite, uveíte e edema macular. Neste contexto, são utilizados medicamentos como aflibercept, ranibizumab, acetonido de fluocinolona e implantes de dexametasona administrados por diferentes vias: intra-vítrea, injeção subconjuntival ou através de sistemas oculares de libertação prolongada.

Para diferentes indicações oftalmológicas, existem medicamentos com eficácia e segurança demonstrada, mas que não se encontram disponíveis comercialmente para a via de administração oftálmica, quer por desinteresse económico da Indústria Farmacêutica, quer por problemas de estabilidade das preparações. Isto significa que, muitas vezes, os medicamentos são usados off-label ou têm de ser produzidos na Farmácia Hospitalar, por manipulação e adaptação à via oftálmica de formulações comercializadas para outras vias de administração, mediante a supervisão do farmacêutico.

As Unidades de Preparação de Medicamentos Oftálmicos são da responsabilidade do farmacêutico hospitalar, que deve avaliar o tipo de instalações e equipamentos a utilizar de acordo com o medicamento a ser manipulado. Devem ser analisados os riscos de produção, os riscos ambientais e os riscos para o operador, assegurando um plano adequado de controlo de qualidade e rastreabilidade do medicamento, com procedimentos escritos e aprovados de acordo com as Boas Práticas de Farmácia Hospitalar.

O desafio do farmacêutico hospitalar em Oftalmologia vai para além da parte clínica e da produção de medicamentos. A rentabilidade do medicamento, com redução de custos, a par com a sua utilização racional são pontos subjacentes a toda a atividade e determinantes para uma melhor gestão de resultados.

Dra. Kátia Lourenço

O que transmitir aos jovens sobre a infeção por VIH

Partilha de uma experiência com a Academia Pensa Positivo –

Quando entrei na sala de aula de uma turma do 12º ano para palestrar sobre Infeções Sexualmente Transmissíveis (IST), pensei que a minha experiência clínica pouco ia acrescentar ao conhecimento dos jovens sobre a temática. Enganei-me redondamente. O meu papel naqueles minutos como membro da Academia Pensa Positivo teve mais impacto na saúde comunitária do que alguma vez tinha imaginado. As dúvidas que eu tinha sobre a infeção por VIH quando era estudante, há 10 anos atrás, mantinham-se e tinham de ser esclarecidas. Numa época marcada por uma pandemia, em que todos os conteúdos sobre a saúde são tendenciosos, abordar as IST, e mais especificamente o VIH, de forma pragmática e sem tabus, assumiu-se como uma desafiante lufada de ar fresco (e tal foi notório nos rostos dos alunos e dos professores).

Quando debatemos sobre IST, sabemos que são cada vez mais frequentes e constituem um problema de saúde pública global. Segundo a Organização Mundial de Saúde, mais de 1 milhão de novas IST ocorrem a cada dia, com um impacto significativo na saúde dos adolescentes. Relativamente ao VIH/SIDA, em Portugal, em 2020, a taxa de novos diagnósticos mais elevada observou-se no grupo etário entre os 25 e os 29 anos, a grande maioria em homens, sendo o maior número de casos por transmissão por via sexual.

Várias décadas já se passaram desde o primeiro diagnóstico de infeção por VIH em Portugal, na década de 80, e com os progressos científicos, a realidade da doença mudou. A infeção por VIH causa uma doença crónica que, se precocemente diagnosticada e devidamente tratada, tem bom prognóstico e uma esperança média de vida próxima da população em geral, bem como a possibilidade de gerar família, em circunstâncias específicas. O VIH não tem cura ou vacinação disponível, porém é possível inibir a replicação viral através de medicação antirretroviral. Se o vírus não se replicar, é intransmissível (i=i – indetetável é igual a intransmissível). A medicação atual é muito eficaz e muito bem tolerada. Na maioria dos casos, é possível controlar a doença apenas com um comprimido por dia.

Transmitir toda esta informação aos jovens é uma iniciativa importante para a promoção da literacia em saúde. Só com a alteração de comportamentos (como por exemplo, a utilização de preservativo), conseguimos ter um impacto considerável na erradicação do VIH no futuro e atuar na prevenção de outras doenças sexualmente transmissíveis.

A parceria com a Gilead na promoção de saúde comunitária foi desafiante e de uma contribuição avassaladora na saúde dos mais jovens. Sensibilizar as camadas mais jovens sobre medidas preventivas, diagnóstico precoce, esclarecimento sobre o tratamento de IST e encaminhamento para consulta especializada, quando aplicada, são os objetivos da Academia Pensa Positivo. Pretende-se contribuir para a diminuição de novos casos de infeção por VIH, a sua progressão para a fase SIDA e diminuir o estigma relacionado com a doença.

Segue-nos nas redes: #pensapositivo.pt

Dr.ª Maria Lima, 

Médica Interna de Doenças Infeciosas no Centro Hospitalar de Setúbal

Get to Know the Alumni – Catarina Fialho Vicente

Sempre fui do contra. Nunca soube bem o que queria, mas sempre soube o que não queria. Ser cantora, bailarina ou atriz nunca foi uma ambição. A área da Saúde cativou, desde cedo, o meu interesse. A mente e motivação humanas e a preservação e garantia da saúde e bem-estar eram o meu top 2. Durante muitos anos suspeitei que seria psiquiatra, mas a ausência de uma média de 18 valores impossibilitou-me e em 2016 entrei em Psicologia Clínica na Universidade Clássica de Lisboa… não correu bem, Humanidades não era a minha ‘’cena’’. E, de empurrão, nesse mesmo ano e na terceira fase, entrei em Ciências Farmacêuticas.

Os meus primeiros dois anos no MICF foram passados pelos pingos da chuva. Não estava a adorar o curso em si, nem de perto nem de longe, mas estava muito ocupada a fazê-lo para me preocupar com o que seria a minha carreira a longo prazo (sou uma privilegiada pela postura inocente, confiante e positiva com que encaro a vida).

Motivada por valores dinâmicos, empreendedores, inovadores e multidisciplinares, tropecei (literalmente) na LisbonPH no início do meu terceiro ano (os stands da LPH em 2018 não eram o que são hoje). A escolha do Departamento foi um mix entre Comercial e Vendas, Projetos e Marketing, mas Comercial e Vendas conquistou primeiro o meu instinto.

Gostava muito de não ser clichê, mas acho que vai ter de ser. A LisbonPH foi a orientação e motivação que eu procurava e que tinha perdido há dois anos atrás. Aqui conheci as pessoas mais empreendedoras, ambiciosas, inovadoras e talentosas com que já me cruzei (exageros à parte). Estas pessoas desenvolviam projetos reais, com empresas reais e tinham volumes de negócios acima dos cem mil euros. Por muito tempo não acreditei que acontecesse mesmo. E por síndrome da imitação de quem admiramos, investi em mim e no meu desenvolvimento até atingir o que nunca pensei ter capacidades ou coragem para atingir. Ter a oportunidade de apresentar uma candidatura internacional em Bruxelas em representação da LisbonPH, gerir diariamente uma equipa de 50 membros, participar ativamente no seu desenvolvimento e crescimento e construir amizades (certamente duradouras) baseadas na admiração mútua e desenvolvimento contínuo, foram coisas que nem a minha postura inocente ou confiante perante a vida julgavam existir.

Perguntam-me muitas vezes qual foi o meu maior desafio durante o meu mandato na presidência da LisbonPH, e eu respondo sempre as mesmas três coisas: as pessoas, as pessoas e as pessoas. Não foram as tarefas, as candidaturas ou os projetos com os clientes mais difíceis, foram as pessoas e a capacidade de decifrá-las, conquistá-las e motivá-las. Perguntam-me o que foi mais gratificante e respondo sempre as mesmas três coisas: as pessoas, as pessoas e as pessoas.

O meu percurso pelo mercado de trabalho não é longo (quando digo comumente que tenho 23 anos ou que nasci em 1998 não acreditam e dizem que isso já não existe). Relativamente à Indústria Farmacêutica, e ainda durante o meu percurso académico, estagiei na Pfizer Portugal no Departamento Médico enquanto Medical Affairs na área de Medicina Interna e Doenças Raras. E desde junho de 2021, trabalho no Departamento de Marketing da AstraZeneca Portugal enquanto Oncology Marketing Trainee. Continuo a ser muito desafiada e a aprender muito por pessoas que admiro muito. Sabemos que estamos no caminho certo quando acreditamos que somos melhores que ontem, e eu acredito que sim.

Obrigada,

Catarina Fialho Vicente