NSP: As Novas Drogas de Abuso

O termo “DROGA” aplica-se usualmente a qualquer substância psicoativa ilícita controlada pelos Tratados das Nações Unidas sobre Drogas, nomeadamente a Convenção Única sobre Estupefacientes, de 1961 (emendada pelo protocolo de 1972) e a Convenção sobre as Substâncias Psicotrópicas, de 1971. Estas convenções abrangem, por exemplo, partes de plantas, como as folhas de coca e o ópio, produtos naturais (cocaína, morfina), compostos hemi-sintéticos (heroína, LSD), ou sintéticos, como as anfetaminas. 

No sentido mais lato, o termo “DROGA” pode designar qualquer substância que cause efeito no sistema nervoso central e, quando associada a consumos abusivos, provoca frequentemente dependência. O álcool e a nicotina estão englobados nesta definição mais abrangente de droga.

Desde 2005, começou a surgir uma grande variedade de novas drogas de abuso no mercado das substâncias ilícitas, as quais foram designadas por Novas Substâncias Psicoativas. O termo NSP designa substâncias de abuso, puras ou em preparações, de origem natural ou sintética, que não são controladas pelos referidos Tratados, mas que podem representar uma ameaça para a Saúde Pública comparável com as substâncias enumeradas nessas Convenções. As NSP têm surgido com o propósito de representarem alternativas legais às drogas proibidas como, por exemplo, a cocaína, anfetaminas, ou canábis. Salienta-se que o termo “Nova” não se refere à descoberta de uma nova substância química, mas sim ao seu recente aparecimento nos mercados ilícitos. 

Alguns exemplos de NSP são: a planta Sálvia divitorium e respetivos constituintes salvitorina A e B; o  gás óxido nitroso; e uma variedade de compostos sintéticos como por exemplo a benzilpipreridina, 4-AcO-MET (4-acetoxi-N-metil-N-etiltriptamina), pFPP (p-fluorofenilpiperazina), 3.4-DMMC (3, 4-dimetilmetcatinona) e pravodolina.

As NSP são maioritariamente compostos sintéticos produzidos em laboratórios ilícitos com o intuito de mimetizarem os efeitos psicoativos das drogas ilegais, mas têm uma estrutura química diferente para escaparem às penalizações sociais e legais associadas às drogas proibidas. A nível mundial, até ao final de 2023, foram reportadas cerca de 1235 NSP ao UNODC (Gabinete das Nações Unidas sobre Drogas e Crime). Na Europa, até ao final 2022, já foram reportadas mais de 930 NSP ao EMCDDA (Observatório Europeu da Droga e da Toxicodependência), representando os canabinóides sintéticos e as catinonas sintéticas – os dois maiores grupos de NSP monitorizadas.

Tendo surgido inicialmente como substâncias legais de fácil acesso através da internet, criou-se a falsa ideia de que as NSP poderiam ser mais seguras do que as drogas proibidas. Os casos reportados de intoxicações agudas e fatais associados ao consumo de NSP levaram a que muitas destas substâncias fossem consideradas ilegais em diversos países. Atualmente, 78 NSP já estão listadas nas convenções internacionais sobre drogas, sendo por isso consideradas drogas ilícitas. Na 67ª reunião (março 2024) da Comissão de  Estupefacientes das Nações Unidas (CND) foram adicionadas mais 5 NPS, butonitazeno, 3-clorometcatinona, dipentilona, 2F-DCK (2-fluorodesclorocetamina) e bromozolam. 

No entanto, à medida que se vão controlando as NSP, surgem rapidamente novas substâncias sintéticas nos mercados, originando uma escassez de informação referente aos seus efeitos farmacológicos e toxicidade, o que contribui para que estas substâncias representem um grave problema de Saúde Pública.

30 de Março de 2023,

Helena Gaspar 

Departamento de Química e Bioquímica, Faculdade de Ciências da ULisboa

Vacinação Gripe e COVID-19 na Farmácia

Em Portugal, as Farmácias interagem, diariamente, com 560 mil pessoas, o que representa mais de 5% da população do país. Esta proximidade com as comunidades torna as Farmácias locais de eleição não apenas para o seu reconhecido e tradicional papel na acessibilidade ao medicamento e otimização da sua efetividade e segurança, mas também para a prestação de outros cuidados de Saúde.

Devido à capilaridade da rede e à competência para a administração de vacinas por parte dos Farmacêuticos Comunitários, as Autoridades de Saúde portuguesas decidiram incluir as Farmácias na campanha de vacinação sazonal de 2023/24 contra a gripe e a COVID-19, em complementaridade com os centros de Saúde do SNS. Essa decisão foi apoiada pelos bons resultados de projetos anteriores, como a testagem contra a COVID-19, e pela experiência de vários anos das Farmácias na vacinação da população. Num cenário de hesitação vacinal, era fundamental derrubar barreiras de acesso para garantir que Portugal mantivesse uma cobertura vacinal adequada.

A Associação Nacional das Farmácias avaliou o impacto da inclusão da rede de Farmácias na Campanha de Vacinação de 2023/2024. Os dados revelaram que as Farmácias administraram 70% das vacinas na época sazonal, contribuindo para uma cobertura vacinal de 72,1% contra a gripe em pessoas com mais de 65 anos e de 60,8% contra a COVID-19. Embora esta última taxa seja inferior aos 75,8% de 2022/23, é ainda muito superior (cinco vezes!) à média europeia, que se cifrou em 12%. Esse desempenho foi possível porque, com a participação das Farmácias, os pontos de vacinação aumentaram 400%, reduzindo a distância média até os locais de vacinação para metade. Essa conveniência também resultou em menos deslocações de carro e maior disponibilidade de horários, tendo gerado um potencial de poupança de 2,4 milhões de euros para os utentes.

A inclusão das Farmácias no processo vacinal também trouxe benefícios diretos para o Serviço Nacional de Saúde (SNS). Uma vez que os Farmacêuticos Comunitários também participaram no esforço vacinal, os profissionais do SNS tiveram cerca de 310 000 horas de trabalho que puderam dedicar a outros atos nos cuidados de Saúde primários.

Os bons resultados e a elevada satisfação da população com esta iniciativa garantiram a sua continuidade para a campanha vacinal 2024/25. Este ano, já se vacinaram mais de 1 milhão e 800 mil pessoas. Estamos todos de parabéns por este esforço extraordinário.

Considero este esforço conjunto do Governo e todas as entidades do SNS com as Farmácias um exemplo de colaboração na implementação de políticas públicas de Saúde.

Além disso, essa experiência demonstra o potencial das Farmácias para disponibilizar outros serviços de Saúde. Seguindo as orientações da Organização Mundial da Saúde e da OCDE, que valorizam a capilaridade e a qualificação da rede farmacêutica, esta estratégia pode ser ampliada para beneficiar ainda mais a Saúde Pública.

Ema Paulino  

Presidente da Associação Nacional das Farmácias

ELA desmitificada: “Desvendando os seus aspetos fundamentais”

A Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA) é uma doença neurodegenerativa caracterizada pela destruição dos neurónios motores localizados no córtex motor, tronco cerebral e na medula espinhal, associado a um processo neuro-inflamatório cuja etiopatogenia é complexa e não está ainda totalmente compreendida, e que conduz à atrofia dos músculos esqueléticos. Funcionalmente, traduz-se numa fraqueza muscular progressiva, que afeta de todos os segmentos: motricidade grossa, fina, respiração, deglutição e fala, conduzindo à dependência total de terceiros. Em contexto clínico a sua apresentação é, por norma, extremamente rápida e multifacetada ao nível dos sintomas de apresentação e progressão, o que torna a ELA uma doença única e altamente complexa de tratar, carecendo do apoio de uma equipa multidisciplinar em contexto hospitalar, domiciliário e comunitário no seu percurso, tanto direcionado para o doente como para os seus familiares/cuidadores. 

Independentemente do seu início, a sua progressão é geralmente rápida e fatal, sendo a insuficiência respiratória a principal causa de morte, e que geralmente ocorre passados 3 a 5 anos do surgimento dos sintomas. A sua etiologia é igualmente variável, onde cerca de 90% dos casos são esporádicos, e os restantes apresentam uma história familiar positiva. Vários genes disfuncionais estão descritos associados à ELA (SOD1, C9orf72, 43-TARDP, FUS, etc.), sendo que o padrão na ELA familiar consiste, em norma, numa hereditariedade autossómica dominante de penetrância variável. 

Após o diagnóstico pelo médico Neurologista os doentes são então referenciados para o apoio multidisciplinar, numa equipa que contempla: neurologia, medicina física e reabilitação, pneumologia, cuidados paliativos, nutrição, psicologia, terapia da fala, fisioterapia motora e respiratória, serviço social, gastroenterologia, etc. 

A intervenção e acompanhamento não farmacológico são fundamentais, com destaque para o acesso às rotinas de reabilitação e gestão das necessidades de um modo antecipatório e adaptado ao estado e capacidade funcional por técnicos treinados para a doença, conjuntamente com respostas ao nível da formação/capacitação dos doentes e cuidadores, produtos de apoio, apoio ventilatório, ostomia de alimentação, ajudas pecuniárias, e cuidados formais (lista não exaustiva). 

O Riluzol, que atua ao nível da excitotoxicidade induzida pelo glutamato, é o único fármaco no nosso mercado, já há mais de 20 anos. Mais recentemente o Committee for Medicinal Products for Human Use (CHMP) emitiu um parecer positivo relativamente ao fármaco Tofersen, um oligonucleótido antisense que promove a degradação do mRNA envolvido na síntese da proteína superóxido dismutase (SOD1). Contudo este medicamento tem como alvo o grupo restrito de doentes com mutações patogénicas na molécula SOD1, mutação rara na população portuguesa.

Em Portugal, a ELA afeta cerca de 1000 a 1200 doentes. E a APELA – Associação Portuguesa de Esclerose Lateral Amiotrófica, é uma organização não governamental sem fins lucrativos, com 26 anos de história, que procura promover e divulgar a doença, advogar e lutar pela melhor representação e proteção dos interesses dos doentes e seus respetivos cuidadores, bem como o seu acompanhamento especializado. 

O desafio atual passa então pela consciencialização para as necessidades destes doentes e cuidadores, numa otimização de cuidados e respostas organizadas. Numa procura de respostas equitativas, rápidas e “uníssonas”, sejam em Saúde, sejam do ponto de vista social/pecuniário, seja no melhoramento do acesso e na capacitação dos pacientes para uma maior autonomia e participação. Fornecemos também apoio na gestão dos sintomas até à fase final de vida, promovendo um percurso de vida digno.

Dr. Filipe Gonçalves

Diretor Técnico e Fisioterapeuta na APELA – Associação Portuguesa de Esclerose Lateral Amiotrófica

A Residência Farmacêutica: Um importante recurso ao dispor do Farmacêutico

Os farmacêuticos desempenham um papel vital na promoção da Saúde. Ao escolherem a Residência Farmacêutica (RF) estão a investir nas suas carreiras e na Saúde Pública, comprometendo-se com o seu crescimento pessoal e profissional, e abrindo portas para um futuro repleto de oportunidades. 

A RF prepara os residentes para uma carreira especial, autónoma, diferenciada e estruturada, de acordo com as necessidades dos serviços de Saúde e dos utentes. Promete desafios que impulsionarão crescimento e aprendizagem constantes. Enfrentar situações complexas e colaborar com equipas multidisciplinares irá desenvolver resiliência, capacidade de adaptação e relações interpessoais, características fundamentais para uma carreira de sucesso. 

O programa da RF proporciona uma experiência prática, que vai muito além dos conhecimentos adquiridos nas universidades e que permite obter capacidades clínicas e técnicas, que só podem ser adquiridas num ambiente real. A RF permite uma aprendizagem profunda e contínua com mentores experientes e a possibilidade de participar em projetos de investigação inovadores. Também possibilita a criação de redes de contactos, relações profissionais valiosas e novas oportunidades de carreira. 

O ano de 2023 constituiu um marco determinante para a profissão farmacêutica pois os primeiros residentes iniciaram um programa formativo que lhes abre perspetivas para o ingresso no quadro farmacêutico do Serviço Nacional de Saúde (SNS) e que conduz à sua especialização. Neste processo, a Ordem dos Farmacêuticos (OF) apoia os residentes na valorização das suas capacidades e competências.

O decreto-lei nº 6/2020 de 24 de fevereiro definiu o regime jurídico da RF para a obtenção de um título de especialidade numa das diferentes áreas: Análises Clínicas (AC), Genética Humana (GH) e Farmácia Hospitalar (FH). Estas áreas devem estar capacitadas para abraçar desafios futuros, gerando profissionais qualificados e com uma intervenção orientada para a obtenção de resultados em Saúde e para a sustentabilidade dos serviços de Saúde, nomeadamente o SNS.  

A promoção das áreas em que o farmacêutico se pode diferenciar nas AC e na GH, por apresentar uma mais-valia em relação aos profissionais com outras qualificações e que partilham com ele o mesmo espaço laboratorial, é considerada estratégica pela OF.

A formação académica que é disponibilizada ao farmacêutico confere ao analista clínico uma vantagem competitiva para o desenvolvimento de áreas emergentes das quais são exemplos: 

  • Biologia molecular;
  • Genómica e proteómica;
  • Farmacogenómica; 
  • Medicina personalizada; 
  • Medicina preditiva e de precisão; 
  • Técnicas para identificar e monitorizar biomarcadores associados a tratamentos com fármacos inovadores ou medicamentos biológicos.

Estas áreas emergentes podem contribuir para a diferenciação laboratorial e os farmacêuticos devem investir nelas para ocupar lugares de destaque em toda a inovação que está a acontecer. 

Nas próximas décadas, os farmacêuticos especialistas em AC e em GH vão continuar a ter um papel nuclear no setor, onde a aposta na formação e na capacitação será preponderante. A RF assegura também a excelência na prática farmacêutica hospitalar, beneficiando diretamente a qualidade assistencial. Torna-se urgente apostar no rejuvenescimento destas áreas, com o propósito final de desenvolver um setor imprescindível nos cuidados de Saúde e no SNS.

 

Prof. Doutora Maria Leonor Correia

Contribution of Pharmacoeconomics to Enhancing the Pharmaceutical Industry Development

The culture of evidence-based healthcare, quality-linked incentives, and patient-centered actions, driven by the natural financial constraints on health systems budgets, led to a growing interest by decision and policymakers in expanding Health Technology Assessment (HTA) criteria to Pricing and Reimbursement (P&R) of a given technology (e.g., drug, vaccine, procedure, service), especially in disease areas with high unmet need or significant health and economic impact. Thus, in the past years, most administration and regulatory bodies around the globe improved their technologies’ approval procedures to be grounded on scientifically sound, cost-effective evidence aiming at maximizing value for patients, healthcare payers and society in light of increasingly limited healthcare resources. 

Pharmacoeconomics, broadly defined as the branch of health economics that measures the costs and outcomes (risk/benefits) associated with the use of health technologies is one of the central pieces of the P&R process that relies on the findings of different types of analyses (such as cost-of-illness, budget impact and cost-effectiveness analysis) for the decision-making. Yet, for this process to occur, the involvement of relevant stakeholders, such as the pharmaceutical industry, is strongly advised as it can strengthen the legitimacy of HTA as well as increase transparency, acceptance, and use of health products. Although Pharmacoeconomics may be time consuming, expensive, and a complex process (considering the need of several resources), it is indispensable for pharmaceutical industries to communicate the value of their products to external decision-makers (i.e., payers, prescribers) as well as to anticipate and achieve regulatory and reimbursement approvals. 

Moreover, technologies that undergo economic evaluations are perceived to have an ‘added value’, which may contribute towards their commercial success (marketing and promotion strategies). Additionally, considering that the research and development (R&D) of new technologies is long and costly, the use of Pharmacoeconomics in early development phases may provide useful and internal (for the company) inputs into the design of clinical development programmes, portfolio management and optimal pricing strategies which are likely to increase the efficiency of R&D resources use. Yet, most pharmaceutical industries outsource these activities to contracted companies or partners (e.g., private associates, consultant services, universities) that are specialized in performing economic evaluations. 

Although simpler models, usually in more advanced phase of products’ life cycle (III or IV), can be performed in-house (considering that executives in departments handling price and reimbursement are often familiar with or have an educational background of HTA methods), most industries prefer to hire external services aiming at having more impartial and valid analysis. Nonetheless, given the above-mentioned contributions of Pharmacoeconomics to the pharmaceutical industry, the investment in specialized in-house health economics and outcomes research (HEOR) departments alongside with increased awareness and support for HTA capacity building are paramount to further advance both the company and the Healthcare field.

 

Fernanda Stumpf Tonin, PhD/Professor

Get to Know the Alumni – Carolina Nunes

“O meu nome é Carolina Nunes, tenho 24 anos e no ano de 2017 entrei na Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa, a minha primeira opção de escolha, fascinada pelo organismo humano e com uma grande preferência pela área da Saúde. Rapidamente percebi que o Mestrado Integrado em Ciências Farmacêuticas não seria constituído apenas pelo que mais me interessava, muito menos apenas pelo que eu tinha mais aptidões para desenvolver, mas também que lhe faltava uma grande componente: as tão frequentemente chamadas “soft skills”, o ensino prático, a preparação para o mercado de trabalho e verdadeira alavanca para o futuro que nos espera. 

 

Foi com este reconhecimento das lacunas do MICF que surgiu a minha candidatura à LisbonPH e, em março de 2019, tornei-me Gestora de Projeto. Tive a oportunidade de gerir vários projetos e, assim, desenvolver as minhas capacidades de gestão de tempo, priorização e, acima de tudo, gestão de equipa e contacto interpessoal com personalidades distintas. Em março de 2020 tornei-me Diretora do Departamento de Projetos e o desafio aumentou: fomentou a minha liderança, adaptação a situações inesperadas e muita flexibilidade, para além de pôr à prova a minha gestão de esforço e pensamento estratégico. Tive ainda a grande oportunidade de fazer parte de um projeto internacional, com a organização de um evento europeu em Bruxelas com uma equipa de variadas nacionalidades e culturas, que enriqueceu sem medida o meu percurso. É com grande certeza que afirmo que a minha experiência na LisbonPH complementou da melhor forma o conhecimento científico que obtive com o MICF, acrescentando-lhe valor a nível pessoal e profissional.

 

Em 2022 terminei o curso e tornei-me Farmacêutica Comunitária. Neste primeiro ano de percurso profissional, esta função permitiu-me ter contacto direto com o doente, com as suas necessidades e dificuldades, e tive o privilégio de poder fazer a diferença de forma direta na vida de quem procura a ajuda do farmacêutico. Ainda que se trate de uma posição de desgaste físico e psicológico, retirei experiências valiosas a nível pessoal e profissional, trabalhei a minha postura de resiliência e aprendizagem constante, para além de fomentar o meu conhecimento científico.

 

Em setembro de 2023 tive o privilégio de me tornar Trainee na Johnson & Johnson Innovative Medicine Portugal, nas áreas de Farmacovigilância e Qualidade, onde o desafio da gestão de tempo e esforço continua presente, aliado a uma experiência sem paralelo de aprendizagem e evolução permanente, e um grande entusiasmo com tudo o que ainda está para vir.

 

A candidatura à LisbonPH nunca foi para mim uma dúvida, muito menos esteve em questão a minha vontade de poder fazer mais e melhor ao aproveitar todas as oportunidades que estar na LisbonPH me poderia dar. Foi dessa forma que encarei essa grande viagem e são estas mesmas experiências e motivações que continuo a levar no meu percurso, onde a LisbonPH, inevitavelmente, está sempre presente.”

A qualidade do sono e o consumo de fármacos hipnóticos em Portugal

O sono ocupa um terço das nossas vidas, desempenhando um papel fundamental na recuperação de energias para o dia seguinte. Nesse âmbito, é essencial para o desenvolvimento cognitivo, bem como para a consolidação da memória, o equilíbrio metabólico e a regulação imunológica e cardiovascular.

 

A privação crónica do sono ou outros distúrbios de sono têm, por isso, associados riscos de obesidade, riscos acrescidos de infeções e impacto cardiovascular grave, com aparecimento de patologia cardíaca, hipertensão arterial, diabetes mellitus e patologia cerebrovascular.

 

A nossa sociedade inquieta não respeita o sono. Dormimos pouco e mal. O nosso dia sobrecarregado aos níveis profissional, familiar e social, pensa no sono como um adversário para a produtividade e diversão. Como tal, a má higiene do sono é cada vez mais marcante na nossa sociedade, com rotinas de sono (horários de deitar/acordar) irregulares, uso de dispositivos eletrónicos e consumo de álcool e café ao deitar.

 

A insónia é o distúrbio de sono mais frequente – aproximadamente 50% da população já teve um episódio de insónia aguda em alguma fase da sua vida, normalmente secundária a algum fator de instabilidade emocional e ansiedade. A insónia crónica caracteriza-se por má qualidade do sono no contexto de dificuldade em iniciar o sono, despertar a meio da noite ou por despertar mais cedo de manhã que o desejado, e que ocorre durante, pelo menos, três meses. A prevalência nestes casos é de cerca de 25%.

 

A má qualidade do sono afeta negativamente o dia do doente, com sensação de sono não reparador, dificuldade em concentração, falta de energia, distúrbios do humor (irritabilidade, agressividade), diminuição de rendimento escolar e laboral, com impacto no absentismo. A insónia pode estar presente em até 40% dos doentes com depressão e ansiedade.

 

O sono não deve ser tomado como garantido. Para o cuidar temos de ter bons hábitos e boa higiene do sono. A qualidade de sono dos portugueses é má. A mudança de hábitos é difícil de concretizar por relutância para o fazer, procurando soluções mais rápidas, como uso de hipnóticos, que como sabemos apresentam consumos elevados no nosso país.

É importante também o reconhecimento e o diagnóstico atempado da insónia e perceber que, nestes casos, o tratamento é mais que o uso de hipnóticos (benzodiazepinas ou zolpidem) e que a terapia cognitiva-comportamental é reconhecidamente mais efetiva para o tratamento destes doentes.

O Futuro das Técnicas de Procriação Medicamente Assistida

A infertilidade é uma preocupação crescente em todo o mundo e a Organização Mundial de Saúde (OMS) tem alertado para o aumento significativo da incidência desta patologia.

Estatísticas recentes sugerem que cerca de 15% da população mundial é infértil. 

Embora a atenção dada às mulheres seja justificada, dado o seu papel crucial na gravidez, o estudo da Saúde Reprodutiva dos homens é muitas vezes negligenciado. No entanto, é importante salientar que 50% dos casos de infertilidade envolvem o fator masculino. É ainda crucial desmistificar a ideia de que a infertilidade é um problema que afeta principalmente as mulheres. Quando falamos sobre a infertilidade masculina, é importante lembrar que cada espermatozoide transporta informações genéticas e epigenéticas únicas que podem ter um impacto significativo na saúde das gerações futuras. 

Estudos recentes da nossa equipa mostraram que a dieta durante a infância pode afetar a qualidade espermática na idade adulta. Da mesma forma, o estilo de vida, incluindo a dieta, pode ter um impacto na qualidade do esperma e na informação transmitida à descendência. Diversos estudos, incluindo da nossa equipa, têm demonstrado que uma dieta rica em gordura pode alterar a informação epigenética no espermatozoide e afetar negativamente a saúde metabólica dos filhos. Para enfrentar esses desafios é fundamental melhorar os meios de preparação de gâmetas para as técnicas de Procriação Medicamente Assistida (PMA) e identificar informações epigenéticas prejudiciais que possam ser transmitidas para a descendência e impactar a sua saúde. 

A criopreservação de gâmetas é também um tópico que merece destaque como medida preventiva à diminuição da qualidade com a idade, exposição a compostos químicos e tratamentos médicos, entre outros. Além disso, é fundamental promover uma maior conscientização sobre a infertilidade masculina e incentivar a realização de exames preventivos, a fim de detetar possíveis problemas de fertilidade precocemente. Infelizmente, muitos homens ainda se sentem desconfortáveis em discutir questões relacionadas à fertilidade, o que pode levar a um diagnóstico tardio e a uma abordagem inadequada do problema. Portanto, é necessário um maior investimento na investigação e conscientização sobre a infertilidade masculina para promover o bem-estar das gerações futuras. 

A investigação deve se concentrar em maneiras de melhorar a qualidade do esperma e identificar os fatores que afetam negativamente a fertilidade masculina, bem como nos fatores prejudiciais para a saúde da descendência que podem ser transmitidos pelo espermatozoide. Além disso, deve haver um esforço contínuo para educar os homens sobre a importância de conhecerem a sua fertilidade. 

Em resumo, a infertilidade masculina é um problema que não tem tido a atenção que merece. Com a conscientização adequada, um maior investimento na investigação e uma abordagem preventiva, podemos garantir que os casais tenham filhos saudáveis e felizes.

  • Doutor Marco Alves

Investigador no Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS)

The benefits of fitness for Mental Health

You want to get your body to look a certain way. Whether it’s adding more muscles or losing fat, you want to know what exercises will get you there. 

But here’s the thing. 

Exercising has far too many other benefits, especially for Mental Health. Yes, you can achieve a certain body composition with it. But that’s more the aesthetics of it. How exercise benefits your Mental Health is actually pure magic. 

What does exercising do that is more beneficial than changing the way you look? 

  1. It makes you feel energetic. When you exercise, you are sending more oxygen to your tissues. This improves your cardiovascular system. That’s your heart and lung health. And when your heart and lungs do well, you have more energy; 
  2. It helps you relieve stress. Exercise reduces levels of the body’s stress hormones, such as adrenaline and cortisol. And it increases the feel good hormones – endorphins. Exercising is also like playing. You keep your body focused on working out or walking or anything that you enjoy, and your mind is no longer thinking about everyday life chores;
  3. Exercise naturally helps you reduce anxiety and depression. When you are exercising, you are present in the moment. Whether you are running or lifting heavy weights, you have to focus on your breath, form and how you are feeling during the activity. That makes you fully present in the moment. It’s the easiest way to practice mindfulness;
  4. Exercising makes you feel confident. Your strength improves, your endurance improves, your posture gets better, your energy levels get higher, you look good in clothes that you wear. And all this translates to you feeling confident. It’s a great way to boost self-esteem;
  5. It helps you sleep better. And we all know, sleep is an underrated superpower that actually helps us do more. Exercising increases body temperature. This inturn has a calming effect on the mind. And that inturn helps you sleep better. Just be careful to not exercise too close to bedtime;
  6. Exercising is great for brain power. When you exercise, your brain produces new cells – a process called neurogenesis. That process helps strengthen the hippocampus. This helps prevent cognitive decline as we age, especially dementia and Alzheimer’s.  

     

    How often should you exercise? If possible, everyday for 20-30 minutes. If not, 4-5 times a week. Do you have to go to the gym? No! Walk around your neighbourhood, that works too. 

    What form of exercise should you do? Any form that you enjoy – running, Tennis, walking, dancing. It doesn’t matter.

    Make time for it. Prioritise your Health. It’s your first foundation. And if your foundation is weak, it will crumble as you try to build on it. 

    You owe it to your mind and body to take care of it, because you only get one.

    Priyamvada S.



Vacinas contra o cancro: uma abordagem com potencial por explorar

O cancro é uma das doenças mais prevalentes a nível global, afetando anualmente milhões de pessoas em todo o mundo, com um impacto enorme nos doentes, nas famílias, nos sistemas de saúde e na sociedade em geral. Apesar do progresso extraordinário que tem sido alcançado nas últimas décadas do ponto de vista clínico, alicerçado em tratamentos como a cirurgia, radioterapia e quimioterapia, terapêuticas completamente curativas (isto é, que resultem numa cura total dos doentes) continuam a ser minoritárias, estando muitas vezes dependentes do estadio de avanço da doença aquando do diagnóstico. Neste contexto, as vacinas contra o cancro apresentam potencial para, ao longo dos próximos anos, serem mais uma opção no arsenal de “ferramentas” à disposição dos oncologistas. 

Ao contrário de outras modalidades terapêuticas como a quimioterapia, que geralmente “atacam” células com elevada capacidade proliferativa anormais (como células cancerígenas) e também células saudáveis (como folículos capilares), as imunoterapias atuam a nível do sistema imunitário, estimulando o mesmo para que possa reconhecer as células tumorais como células anormais, e as elimine. 

Já existem atualmente em uso clínico vários fármacos “imunoterapêuticos”, sendo os anticorpos inibidores de checkpoints imunitários (como o pembrolizumab) os que maior sucesso clínico têm revelado no tratamento de alguns tipos de cancro. 

No caso das vacinas contra o cancro, distinguem-se dois tipos principais, diferenciadas pelo seu modo de ação:

  • Vacinas preventivas: atuam de forma muito semelhante às vacinas tradicionais contra doenças infeciosas (como a gripe), sendo administradas de forma preventiva para criar memória imunitária contra determinados agentes infeciosos (em especial vírus), impedindo ou limitando a capacidade dos mesmos em causar doença após infeção.  

O exemplo mais conhecido é a vacina contra o papilomavírus humano (HPV), que faz parte do plano nacional de vacinação para prevenção do cancro do colo do útero.

  • Vacinas terapêuticas: são administradas após um diagnóstico de cancro, com o objetivo de estimular o sistema imunitário a reconhecer e eliminar especificamente as células cancerígenas. 

Um dos exemplos nesta categoria é a Provenge® (Sipuleucel-T), uma vacina aprovada pelas autoridades de saúde dos EUA (FDA), para tratamento do cancro da próstata avançado, que revelou um aumento na sobrevida global dos doentes em ensaios clínicos. É uma vacina personalizada, que envolve recolha de células imunitárias do doente, exposição a uma proteína encontrada nas células tumorais, e posterior re-infusão. De notar que esta vacina já não possui autorização para administração em países regulados pela Autoridade Europeia do Medicamento (EMA).

A personalização é um dos fatores mais atrativos das vacinas terapêuticas. Ao serem adaptadas às mutações existentes nos tumores dos doentes, estas vacinas podem ser altamente eficazes (e apresentarem menos efeitos secundários) porque têm como alvo antigénios específicos que existem apenas nas células tumorais do doente (e não nas células saudáveis). 

Apesar de resultados promissores em ensaios clínicos, as vacinas contra o cancro enfrentam ainda vários desafios, sendo de destacar (i) a capacidade de supressão imunológica dos tumores, que faz com que as células imunitárias possam perder atividade e eficácia no microambiente tumoral, (ii) a heterogeneidade em termos de resposta clínica, já que nem todos os pacientes respondem às vacinas e a sua eficácia, podendo variar com base no tipo de cancro e nas características individuais, e (iii) o custo e acessibilidade, já que o desenvolvimento de vacinas personalizadas exige recursos e infraestrutruras especializadas que podem torná-las dispendiosas e menos acessíveis para os doentes. 

Numa perspetiva global, não revelando, neste momento, potencial curativo quando utilizadas como terapia única, as vacinas poderão constituir uma abordagem complementar que melhore a resposta clínica e a qualidade de vida dos doentes. À medida que a investigação clínica na área das imunoterapias e medicina personalizada se desenvolve, e a otimização de métodos de fabrico permite a redução de custos de produção, é expectável que as vacinas contra o cancro sejam incluídas num regime normal de tratamento dos doentes, tornando cada vez mais possível que o tratamento do cancro seja curativo para a maioria dos doentes.  

 

Pedro M. Costa

Diretor de Operações

Stemmatters, Biotecnologia e Medicina Regenerativa SA